Dez e meia da manhã
Campus da faculdade
Mia batia o pé sob a mesa enquanto ouvia o professor falar sobre fraudes dentro da lei. Era uma matéria importante, mas sua mente não estava ali e sim vagando sem rumo até um par de olhos escuros, os quais ela teria que confrontar.
"Tem que ser hoje, não podemos esperar mais ou sua história vai para o ralo", ecoou as palavras da amiga quando chegaram à faculdade. Ela sabia que teria que ser feito. Finalmente, o sinal tocou, indicando o fim da aula. Mia logo guardou o que tinha em cima da mesa na bolsa e saiu porta afora para o corredor, avistando Melanni à sua espera.
— Vamos ao campo de futebol, os rapazes devem estar treinando — disse Melanni ao ver Mia.
— Vamos falar com ele na frente de todo mundo? — Mia indagou preocupada.
— Não, vamos esperar até que estejam indo embora e o confrontamos longe dos demais. Olha, eu ouvi dizer que ele sempre vai atrás da arquibancada para, sabe... — Melanni fez um bico na direção de Mia, que fez uma careta.
— Não, eu não sei.
Melanni rolou os olhos.
— Ele fuma algo que claramente não é só cigarro — ela disse entre dentes.
— Oh, não! Mel, meu pai nunca vai aceitar que eu namore um cara que usa drogas. Isso sim é uma sentença de prisão — Mia disse desesperada.
— Calma aí — Melanni a pegou pelos ombros — ele não é um drogado, é só um usuário inofensivo, e isso a gente pode também resolver com ele. E outra, você não vai namorar com ele de verdade, é só até seu pai desfazer o tal acordo, então relaxa, ok?
Mia balançou a cabeça em positivo, tinha que se acalmar e confiar no plano, seguir o plano e ser o mais convincente possível para seu pai.
— Ok, vamos — disse, recebendo um aceno firme de Melanni.
…
Ficaram na arquibancada vendo o treino de futebol. A cada minuto que se passava, Mia sentia o nervosismo se apossar mais e mais dela, um suor frio descendo por sua nuca. Talvez fosse o calor escaldante que fazia hoje. Passou a mão na nuca, pegou uma revista de fofocas dentro da bolsa e começou a abanar para aliviar o calor. Então, fechou os olhos. Quando os abriu, olhou diretamente para o campo, vendo um certo alguém sentado no banco reserva, olhando com certa curiosidade.
Nathan estava curioso sobre aquela garota. Não que ele tivesse algum interesse nela, mas ele realmente queria saber mais sobre. Quando a viu chegar com a amiga de cabelos ruivos como labaredas, logo fitou o olhar nela toda vestida entre tons de rosa e azul, uma patricinha. Porém, ela não parecia como as outras, atiradas donas de um ego inflado, mas sim parecia de certa maneira até ingênua, olhando de relance.
O sol escaldante castigava o campo, e Nathan sentia o suor escorrer pela testa, mesclando-se com a poeira. O treinador gritava instruções, mas sua mente vagava para a figura da garota na arquibancada. Ele nunca se importará muito com o que os outros pensavam, mas havia algo nela que o intrigava.
Quando seus olhos se encontraram com os dela, Nathan sentiu uma pontada de curiosidade misturada com nervosismo. Ele desviou o olhar rapidamente, mas não antes de capturar um vislumbre da expressão preocupada nos olhos dela.
— Vamos logo, Lewis, agora é a sua vez, entre lá e mostre que não é um molenga desgraçado! — O treinador gritou, trazendo-o de volta à realidade.
Levantou-se, sentindo a pressão aumentar à medida que se dirigia para o campo. O jogo não era sua paixão, mas sabia que precisava manter as notas para garantir uma bolsa de estudos. Além disso, havia o acordo a cumprir. Respirou fundo, ajustou o capacete e entrou em campo, pronto para mais uma sessão de treino.
…
No final do treino, todos se dirigiram ao vestiário e Nathan, como de costume, retirou seu equipamento antes de se encaminhar para trás das arquibancadas.
—É ele, está lá— exclamou Melanni, triunfante. —Agora vá até lá.
—O quê?— indagou Mia, encarando-a.
—Vá até lá e fale com ele.
—Você não vai comigo? Não consigo ir sozinha até lá—disse Mia, apavorada, segurando a mão da amiga.
—Vou ficar aqui de vigia. Se alguém te ver lá atrás com ele, começarão a falar, e isso pode gerar fofocas em toda a faculdade. Você quer que os outros saibam?—questionou Melanni.
—Claro que não. Nossa, não tinha pensado nisso—respondeu Mia.
—É por isso que sou sua amiga. Vai lá— disse Melanni, encorajando-a com um gesto.
Mia levantou um tanto nervosa. Propor algo tão humilhante e moralmente questionável não seria fácil.
"E se ele julgar isso como imoral?" pensou enquanto se dirigia para trás das arquibancadas. Seu coração quase saltava pela boca, e um nó se formava em seu estômago. Tentou afastar os pensamentos negativos, respirou fundo e, quando virou para a direita, avistou o rapaz encostado em uma coluna de ferro, soltando uma nuvem de fumaça que se dissipava no ar.
Seu nervosismo alcançou níveis alarmantes quando seus olhos se encontraram com os dele. O nó em seu estômago se transformou em um buraco profundo e gelado, e suas bochechas coraram.