Monteverde
Onde foi que eu amarrei meu burro?
Era isso que eu me perguntava enquanto saía daquele bairro pobre com meu 4x4 reluzente. De todos os seres humanos da face da Terra, eu tinha que dar de cara justo com aquele moleque? Justo ele?
E por que, em nome de tudo que é santo, ele estava morando na pensão da minha morena?
Dei um murro no volante. Pra espantar o pensamento, pra varrer da mente o jeito como ela falava comigo. “Minha morena”? Desde quando eu ficava sem controle por uma mulher daquelas?
Só pra provar meu ponto — e me lembrar de quem eu era —, hoje mesmo eu ia cair matando.
Virei a rua e segui direto pro flat particular, aquele onde ninguém se metia, onde eu fazia o que queria sem ser incomodado. No caminho, já fui ligando pro encarregado.
— Me arruma quatro. Do tipo… no capricho.
Do outro lado da linha, o infeliz se achou íntimo demais:
— Ué, patrão… não deu certo com a moreninha pé de serra?
Travado.
Silêncio curto. O suficiente pra ele perceber que tinha falado demais