Clara Monteiro acordou cedo naquela manhã, o sol filtrando-se pela cortina leve do novo apartamento. O silêncio que antes parecia uma prisão agora era companhia, uma calma diferente. Não havia passos masculinos ecoando pelo corredor, não havia o peso da mansão que cheirava a mentira. Só ela, seu respirar, e a cidade lá fora que continuava indiferente à queda dos poderosos.
Serviu o café devagar, degustando cada gole como um rito. Há anos não sentia o sabor simples da rotina sem medo de quando a próxima traição viria. Pela primeira vez, não havia olhos vigiando seus movimentos, nem voz manipulando suas decisões. Era livre. E a liberdade, descobria, tinha gosto de café quente e silêncio.
Mas a liberdade ainda carregava sombras. Adriano estava preso, sim, mas Elena permanecia à solta, escondida atrás do rótulo de “colaboradora da justiça”. O mundo a olhava agora não como a amante brilhante, mas como cúmplice que, por desespero, entregara o homem que jurava amar. Ainda assim, havia em seu