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O Preço da Traição
O Preço da Traição
Por: Eva Belmont
Capítulo 1 – As Palavras Que Não Eram Para Mim

A noite estava estranhamente silenciosa naquela casa. Silenciosa demais para alguém que, como eu, carregava dentro do peito uma confusão que parecia gritar. Meu nome é Clara Monteiro; sou esposa de Adriano Monteiro e, durante três anos, dividi com ele esta casa, esta rotina e a promessa de um futuro que agora soava vazio. Passei o dia inteiro tentando ignorar aquela sensação de vazio, de algo que não se encaixava no meu casamento, como se houvesse uma sombra entre mim e o homem com quem eu dividira tantos dias e pelo visto eu fui enganada durante esse tempo.

Estava na cozinha, preparando um chá para espantar a insônia — fazia isso sempre que a noite me encontrava inquieta — quando ouvi o som abafado de vozes vindas do escritório. O chá, quente na xícara, era um gesto pequeno para conter a ansiedade; e ainda assim, ali, exatamente ali, senti que precisava saber o porquê daquele silêncio que me corroía. Meu marido raramente se trancava lá tão tarde, ainda mais em companhia de alguém. A curiosidade me puxou pelos pés antes que eu pudesse resistir. Encostei devagar no corredor escuro, prendendo a respiração, até que as palavras começaram a se formar nítidas, cada sílaba cravando como lâmina na pele.

— Você não pode viver assim para sempre — disse a voz de seu amigo. Havia um tom firme, quase impaciente. — Clara não merece isso.

Um silêncio pesado se seguiu, e então reconheci a voz do homem que me amava — ou que achava amar.

— Você acha que eu não sei? — ele respondeu, a voz baixa, carregada de algo que nunca tivera a coragem de me mostrar. — Mas se eu contar, eu perco tudo. Eu perco Clara, fico sem nada.

Meus dedos tremeram, apertando a parede. Ele falava de mim? Perder a mim? Ou estava falando dela… da mulher que sempre fora um fantasma entre nós, sem que eu entendesse o motivo da ausência de calor em certos beijos, da pressa em alguns abraços? Eu estava ali porque algo me avisava que a vida que eu conhecia era frágil — e porque, sem saber exatamente por quê, precisava entender o que se escondia por trás das portas fechadas.

— Você não entende, — ele continuou, e seu tom agora era um sussurro cheio de desespero. — Ela matou os pais da Clara. Você tem ideia do que aconteceria se soubessem? Se ela fosse presa?

Meu coração parou. A respiração se prendeu na garganta como se eu tivesse engolido vidro. O sangue gelou, e em um segundo minha mente viajou de volta quatro anos, até o acidente, à dor e ao vazio que dele sobrevivera. Ele não podia estar dizendo aquilo. Não podia.

— Eu entendo muito bem — retrucou o amigo, firme. — Mas esconder isso, sustentar aquela mulher em outro país, mentir para sua esposa durante três anos… você acha mesmo que pode continuar desse jeito? Você acha que não vai acabar se destruindo junto?

Sustentar. Outro país. Três anos. As palavras eram martelos batendo um depois do outro, quebrando o chão embaixo dos meus pés. Eu quase cambaleei. Meu marido soltou um riso amargo.

— Já me destruí. Eu fiz coisas… coisas que ela nunca pode descobrir. Você acha que eu não sei?

Meu corpo inteiro queimava, mas era um fogo gelado, corrosivo. A mão que segurava a xícara tremeu tanto que o líquido quente escorreu pelos dedos, mas eu não senti nada. Só conseguia ouvir.

— Você quase matou sua esposa naquele acidente só para poder justificar a cirurgia. — A voz do amigo saiu carregada de nojo. — Você roubou um pedaço dela. O que você fez não tem volta.

Minha visão embaçou. Um nó de lágrimas me cegava, mas me recusei a piscar. Eu precisava ouvir tudo, precisava entender o que me havia sido negado por anos.

— Eu só queria salvar a mulher que eu amo — meu marido murmurou, e naquele instante eu entendi com clareza devastadora: eu nunca fora a escolhida. Nunca fora a que ele amava por inteiro. Eu era a ponte, o sacrifício conveniente, a mulher cuja dor justificara outra mentira.

O silêncio seguinte foi tão profundo que pude ouvir o som do meu próprio coração despedaçando.

— E ela… precisava mesmo do rim? — o amigo insistiu, como se ainda houvesse espaço para dúvida.

Um riso nervoso, quebrado. — Não. Não precisava. Foi uma mentira. Uma manipulação dela… e eu caí. Mas o que eu poderia fazer? Eu não podia deixar que a verdade viesse à tona.

Minha mão deslizou da parede, e eu quase caí de joelhos no corredor. O mundo inteiro girava em torno de uma revelação que eu jamais imaginara. Ele não apenas me traíra. Ele não apenas me enganara. Usara meu corpo como moeda de troca para alimentar uma mentira conveniente.

O amigo suspirou, cansado. — Então conte. Por Deus, conte logo antes que ela descubra sozinha.

Tarde demais, pensei. Muito tarde.

Afastei-me em silêncio, cada passo ecoando como um trovão dentro de mim, embora meus pés mal tocassem o chão. O corredor parecia interminável, como se eu estivesse atravessando um deserto de dor. Quando alcancei o quarto, fechei a porta devagar, com a calma de quem já não sente nada — mas dentro de mim, algo havia mudado para sempre.

Deitei-me na cama, mas não preguei os olhos. O teto parecia me observar, cúmplice do segredo que agora eu carregava. Meu peito subia e descia rápido demais, o coração batia no ritmo da fúria que começava a nascer.

Eu não era mais a esposa submissa que acreditava em cada palavra. Eu não era mais a mulher que esperava migalhas de amor. Eu tinha sido traída, mutilada, enganada. E se ele achava que eu não descobriria… estava redondamente enganado.

Naquele instante, entre a dor e o ódio, uma promessa silenciosa tomou forma. Eles me arrancaram tudo, mas agora era minha vez de cobrar cada dívida. Quando a hora chegasse, não haveria piedade.

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