Felipe
O percurso até a Zona Portuária dura apenas treze minutos. Mas o tempo… o tempo se comporta como outra coisa. A cada farol, cada rua escura, cada prédio abandonado que passa pela janela, sinto meu sangue engrossar, pesar, ferver. Helena está ali. Em algum ponto à frente. Assustada. Com frio. Machucada. Ou — não, eu não penso nisso. Não posso pensar. Se eu der espaço para esse pensamento, o homem que projetei ser — o que batalhei para me tornar — deixa de existir. E no lugar dele surge o Diniz que meu pai tentou criar.
Meu monstro interno se move. Acorda. Sorri. Por Helena, eu entro no inferno. Mas por ela… talvez eu também me torne ele.
Chego ao galpão 47-B às 22h43.
O lugar é um esqueleto de metal enferrujado. Grandes portões. Silêncio de cemitério. Nada se move. Nada respira.
Até que eu desço do carro.
E noto.
Dois SUVs escuros estacionados ao fundo. Motores frios. Portas levemente entreabertas. Gente que chegou rápido. Gente que espera. Gente dele.
Um movimento à di