(Narrado por Sergio)
Três dias. Três longos dias se passaram desde que coloquei meu plano em ação. Três dias desde que criei aquele "acaso" perfeito no parque, sabendo exatamente o horário em que ela corria, a rota que fazia, graças ao meticuloso relatório de Edward. E funcionou. Perfeitamente. Agora, depois daquele primeiro "encontro", eu me permitia encontrá-la com mais frequência ali. As nossas corridas matinais rapidamente se tornaram o ponto alto do meu dia. Eram meu escape. Uma fuga do meu mundo sombrio de negociações cortantes, de reuniões onde cada sorriso era uma facada nas costas, e da companhia gélida e venenosa de Sylvia. Era a minha transição para o mundo livre, puro e suave de Hellen. E aquele sorriso doce e inocente dela… Cristo. Era como um banho de luz. Me renova, me fazendo sentir, por alguns minutos miseráveis, que eu não era apenas o monstro que eu sabia que era. Ela me fazia querer ser a pessoa que ela via quando me olhava: apenas Sergio, o homem. Nossas conversas fluíam em cafés after-run ou no caminho de volta para nossos carros, antes de seguirmos para o trabalho. E a cada dia, eu sentia, com a precisão de um estrategista, Hellen cedendo mais e mais. Sua guarda, inicialmente tão alta e fortificada, começava a ruir. Eu via a hesitação nos seus olhos verdes dar lugar à curiosidade, a tensão em seus ombros se transformar em relaxamento na minha presença. Era uma vitória deliciosa. Um sabor adocicado na minha língua. Mas havia um porém. Um detalhe que me intrigava e, ao mesmo tempo, alimentava minha obsessão. Eu estava louco para provar aquela boquinha tentadora, sentir o sabor dela sob a minha, dominar completamente aquela inocência que me levava à loucura. No entanto, percebi que, com ela, eu precisava ir com calma. Havia uma barreira final, um último muro inexpugnável dentro dela que não caía. Por algum motivo que eu ainda não conseguia decifrar – e a incapacidade de decifrar algo me irritava profundamente –, ela mantinha uma parte de si totalmente trancada. Mesmo visivelmente encantada pela minha companhia, mesmo sorrindo e rindo comigo, havia um medo profundo nos olhos dela às vezes. A sombra de um fantasma que eu não conhecia, uma história que ela carregava e que ninguém me contara. E eu, Sergio Vance, que estava acostumado a tomar tudo o que queria, quando queria, me vi no lugar desconfortável de ter que… esperar. Ter que plantar paciência onde só existia desejo puro e possessivo. A caça estava se mostrando mais complexa – e, portanto, mais viciante – do que eu havia previsto. E eu estava determinado a descobrir que história era aquela que assombrava os olhos verdes da minha presa. Porque tudo que é dela, eu quero saber. Tudo que é dela, um dia, será meu. Uma certa manhã, sob um céu incrivelmente azul, eu a convidei para ir ao clube Willow Creek Equestrian comigo no final de semana. Ela estava de folga. Inicialmente, seu rosto iluminou-se com um sorriso genuíno de animação. Mas, como se uma sombra a tivesse atingido, vi aquela luz se apagar quase instantaneamente. Seus ombros se curvaram levemente e ela desviou o olhar. — Parece… incrível, Sergio. Mas não sei se… Estávamos correndo. Sem pensar, eu a fiz parar. — Seu cadarço está desamarrado — menti, baixando-me na frente dela. Meus dedos, ágeis e precisos, fizeram o trabalho de amarrar o cadarço que já estava perfeitamente ajustado. Mas o verdadeiro objetivo era outro. Ao me levantar, segurei seu pulso com uma suavidade que não era um convite, mas uma âncora. Forcei-a a me encarar. — Por quê, Hellen? — perguntei, minha voz mais grave do que o planejado. — Você consegue se comunicar, sorrir e até aceitar minha aproximação longe de todos. Mas, em público… em público você está sempre fugindo de mim e da ideia de nós. Ela tentou puxar o braço, sem sucesso. — Isso não é verdade… — É, Hellen. Você sabe que não minto. — Minha voz era um fio de paciência prestes a se romper. — Você sempre pede lugares escondidos, longe do seu trabalho, longe dos seus amigos. Tem vergonha de mim? Seus olhos verdes se arregalaram, machucados. — Vergonha de você? Por quê? — Eu não sei! — soltei o pulso dela, exasperado, passando a mão pelo rosto. — Talvez por ser um homem mais velho, não sei! Porque não sou bom o suficiente para o seu mundo, aparentemente! — Por favor, Sergio… — a voz dela saiu um sussurro cortante. — Nem você acredita nisso. Sabe que não é isso. — Então o que é, Hellen? — insisti, me aproximando novamente, invadindo o espaço dela. — Qual o seu problema em se deixar ser sinceramente querida? Em ser protegida? Ela engoliu em seco, e, quando falou, a voz estava cheia de uma emoção rara que me pegou de surpresa. — É você, Sergio. É tudo que você representa. — E o que eu represento para você? — perguntei, confuso e cada vez mais irritado. — Alguém proibido. A palavra ecoou entre nós, pesada e final. — E por que eu sou proibido para você, Hellen? — desafiei, meu orgulho ferido falando mais alto. — Porque você é um homem rico, Sergio! Rico, não milionário. Bilionário. E isso… isso definitivamente me assusta! O que ela disse… não era o que eu esperava ouvir. E a decepção que senti foi tão ácida e instantânea que me cegou. “Era só isso? Era tudo sobre dinheiro? Eu havia sido enganado? Mais uma vez? Uma garotinha com rosto de anjo e olhos de santa, mas que no fundo era como todas as outras?” — É isso? — minha voz saiu um rosnado baixo, carregado de uma amargura que eu nem sabia que carregava. — Pensei que você não ligava para isso, Hellen. Não sabe o quanto me decepciona. A expressão no rosto dela se transformou. A mágoa deu lugar a uma fúria silenciosa e gelada que eu nunca tinha visto nela. — Você… você acredita mesmo que o que você possui me impressiona, Sergio? — ela falou, cada palavra uma facada de gelo. — Desculpe, querida, eu… — tentei me corrigir, mas era tarde demais. — Pois saiba que é exatamente por isso que não aceito o seu convite! — ela cortou, sua voz tremendo de raiva contida. — Não quero ser vista por nenhum dos seus amigos de clube, de negócios, da sua vida… exatamente por isso! Pelo julgamento alheio! Pelo olhar deles me medindo, me calculando, me achando uma caçadora de fortunas! Assim… assim como você acabou de me julgar! Ela respirou fundo, os olhos brilhando de lágrimas de raiva. — Mas que droga. Esqueci. Você não conseguiria entender. Ao dizer isso, ela se virou bruscamente e seguiu correndo de onde tinha vindo, deixando-me paralisado no meio do caminho. Eu fiquei ali, observando sua figura desaparecer entre as árvores, com as mãos enterradas nos cabelos. — Que merda eu fiz? — sussurrei para o vento, a culpa e a vergonha me atingindo como um tsunami. Eu não a tinha entendido. Eu a havia julgado da pior forma possível. E, no processo, eu havia machucado a única pessoa pura que tinha entrado na minha vida em anos. A minha quase vitória tinha se transformado. E agora tinha o gosto amargo da minha própria estupidez. "Que idiota!"