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CAPÍTULO 6 – PRESENTE SIMPLES

(Hellen narrando?

Ele riu, um som baixo e rico que pareceu acariciar minha pele.

— Adoro ouvir a verdade do que as pessoas pensam sobre mim — ele admitiu, seus olhos brilhando com diversão. — Mesmo que não seja exatamente o que eu esperava ouvir.

— Bom… — respusei, tomando um gole do meu espresso para ganhar tempo, sentindo o calor subir para meu rosto novamente. — A verdade é que você me impressionou no primeiro momento em que o vi. Mas achei melhor ficar quieta.

Sérgio sorriu. Não era apenas um sorriso; era um sorriso vitorioso, largo e aberto, que fez pequenas rugas aparecerem ao redor de seus olhos e o transformou, por um segundo, em um homem muito mais jovem e um pouco menos intimidante. Eu, bebendo meu espresso, o encarei, sentindo-me completamente exposta e incrivelmente viva. Nervosa, capturei meu lábio inferior entre os dentes, mordendo-o suavemente.

Eu vi seus olhos escurecerem por uma fração de segundo, seguindo o movimento. O ar entre nós ficou pesado, carregado de uma tensão súbita e elétrica. Ele notou. Ele sempre notava tudo que eu fazia, e isso sempre me deixava nervosa.

Mas então, como se um interruptor tivesse sido virado, ele recuou levemente na cadeira, quebrando o feitiço.

— E quanto a você, Doutora? — ele perguntou, sua voz de volta ao tom normal, mas ainda com um brilho nos olhos. — O que uma mulher que salva vidas e lê poesia obscura e pouco comum faz para se divertir?

E, para meu espanto, a nossa conversa fluiu fácil a partir dali. Falamos de livros, de música, da vida. Ele não monopolizou a conversa; pelo contrário, fez perguntas e pareceu genuinamente interessado em ouvir o que eu tinha a dizer.

E eu, para meu próprio espanto, me encontrei falando de coisas das quais não conversava há anos – meus medos de médica iniciante, minha paixão por jazz clássico, meu sonho infantil de visitar a Grécia. Senti uma pontada de esperança há muito adormecida despertar cautelosamente dentro do meu peito, como um broto frágil rompendo o solo congelado.

Era perigoso. Era imprudente. Mas, pela primeira vez em muito, muito tempo, eu me senti... vista.

Pois era impossível ignorar os olhares.

Ele não me olhava apenas; ele me devorava com os olhos. Azuis, intensos, fixos no meu rosto como se cada palavra minha fosse a coisa mais fascinante que ele já ouvira. Quando eu me embananei tentando explicar por que amava tanto Adélia Prado, ele não interrompeu. Apenas observou, com um pequeno sorriso nos lábios, como se meu nervosismo fosse a coisa mais adorável do mundo.

— E-eu acho que… — gaguejei, perdendo completamente o fio da meada sob aquele escrutínio. — Que a poesia dela fala da alma de um jeito que… que…

— Que ninguém mais fala? — ele completou, suavemente, sua voz um fio de seda.

Meu coração deu um salto. Como ele sabia? Eu havia dito isso exatamente para a Anya.

— S-sim — consegui engolir em seco, me sentindo completamente exposta. Ele está lendo minha mente?

— Concordo plenamente — ele disse, seus dedos longos girando suavemente a xícara de café. “Há uma verdade crua nela que é rara.”

Eu apenas balancei a cabeça, incapaz de formar palavras coerentes. Por que eu ficava assim? Era um homem. Apenas um homem. Rico, sim. Poderoso, com certeza. Mas ainda assim, um homem. “Por que meu cérebro decidia derreter e minha língua se enrolar toda vez que aqueles olhos azuis se fixavam em mim?”

Ele deve ter visto minha luta interna, porque seu sorriso se suavizou.

— Acalme-se, Doutora — disse ele, e o modo como ele disse ‘Doutora’ soou como um carícia, não como um título. — Eu não mordo. Pelo menos, não antes do segundo encontro.

A piada era inesperada, e um riso surpreso escapou dos meus lábios, aliviando um pouco a tensão. Ele riu também, um som baixo e rico que fez algo dentro do meu estômago se contorcer de desejo.

E naquele momento, sob o olhar quente e divertido de Sergio Vance, eu me perguntei, aterrorizada e excitada ao mesmo tempo: “ No que exatamente eu estava me metendo”.

Alguns dias se passaram. Presentes simples começaram a aparecer para mim no hospital. Não eram joias caras ou arranjos absurdos de flores. Era um buquê pequeno de girassóis. Uma caixa de bombons importados, mas de uma marca que eu adorava e havia comentado casualmente com a Anya. Coisas que demonstravam atenção, não ostentação. E funcionou. Cada gesto simples me cativava mais, porque mostrava que ele estava me ouvindo, me enxergando.

Naquela manhã, decidi correr no parque perto do meu apartamento. Era meu ritual de sempre, mas minha mente, é claro, estava longe dali. Estava em um certo magnata de olhos azuis.

Foi então que o vi. Meu coração deu um salto instantâneo, quase me fazendo tropeçar no concreto do chão.

Sérgio. Correndo na minha direção. Vestindo shorts de corrida e uma regata preta simples que deixava claro que ele, assim como eu, não negligenciava a saúde. Os músculos de seus braços e ombros eram definidos e poderosos, tensionando com cada movimento fluido. O suor fazia a camiseta grudar levemente em seu torso, delineando um físico que nenhum terno caro no mundo seria capaz de esconder completamente. Ele parecia… mais jovem. Mais acessível. E infinitamente mais perigoso.

— Doutora Bennett! — ele disse, diminuindo o passo para acompanhar o meu, sua respiração um pouco ofegante, mas controlada. Um sorriso genuíno de surpresa iluminou seu rosto. — Que coincidência inesperada.

— Senhor Vance — respondi, tentando recuperar o fôlego que não havia perdido com a corrida, mas sim com a sua aparição. — Bom ver você… assim.

— Assim, suado e vestido como um plebeu? — ele brincou, e eu ri, abanando a cabeça.

— Assim… descontraído. E, por favor, é Hellen. Depois do café, acho que podemos pular as formalidades.

— Hellen, então — meu nome soou como uma promessa em sua boca. — E pode me chamar de Sergio. Afinal, é o que sou, não é? Apenas Sergio.

Começamos a correr juntos, num pace lento e conversável.

— Confesso que há tempos não corria ao ar livre — ele comentou, olhando para frente, o perfil dele forte contra o sol da manhã. — Fico preso na academia, entre quatro paredes. Hoje acordei com uma vontade inexplicável de… ar. De mudar a rotina. Não imaginava que encontraria a melhor parte da minha mudança bem aqui.

A melhor parte. As palavras ecoaram dentro de mim, quentes e perigosas.

— Eu corro aqui sempre — eu disse, a verdade saindo naturalmente. Era meu refúgio. Meu lugar seguro. E agora, de repente, ele estava nele.

— É um bom lugar. Tranquilo. E a companhia… — ele virou o rosto para mim, e o olhar foi tão intenso que eu senti como se estivéssemos parados, embora nossos pés ainda batessem no ritmo da corrida. — A companhia é inigualável.

A conversa fluiu facilmente, como da última vez. Falamos de tudo e de nada. Das árvores do parque, da dificuldade de conciliar a vida com o trabalho, de música para se correr. Ele me ouvia com aquela atenção absoluta que me fazia sentir como se eu fosse a única pessoa no mundo.

E eu, Hellen Bennett, a mulher que havia jurado nunca mais se envolver com um homem rico, que construiu muralhas ao redor do seu coração, me senti encantada. Encantada por ele, mesmo sendo um homem mais velho. Encantada pela forma como ele me tratava, não como uma conquista ou um troféu, mas como alguém genuinamente especial. Como se meus pensamentos e opiniões importassem.

Enquanto corríamos lado a lado, sob o céu da manhã, senti uma dessas muralhas começar a tremer e, depois, a desmoronar. Meu coração, cauteloso e ferido, começou a se abrir para a possibilidade do amor. Era assustador. Era irracional.

Era maravilhoso.

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