Narrado por Sérgio
Ela continuava de costas para mim, imóvel diante da janela, o luar recortando sua silhueta. Aquele vestido — o mesmo do maldito casamento que eu interrompera — parecia feito para torturar o meu controle. O branco refletia a luz suave, e cada curva dela gritava lembranças que eu tentava enterrar no fundo da alma.
— Vamos jantar, meu anjo — disse, tentando soar calmo.
— Não estou com fome — respondeu sem se virar.
Suspirei, cansado do jogo que nós dois insistíamos em manter.
— Sei que é mentira. E se não aceitar vir jantar comigo, vou trazer a comida até aqui e alimentá-la eu mesmo. Como se faz com uma criança. Porei você no colo e colocarei cada colher na sua boca, Hellen.
Ela se virou bruscamente, o olhar faiscando.
— Você é impossível! — murmurou, mas vi o tremor em seus lábios.
Sorri, de canto, e estendi a mão. — Então venha, antes que eu cumpra a promessa.
Ela hesitou, mas acabou cedendo. Jantamos em silêncio — o som dos talheres batendo nos pra