Capítulo 5

A batida da música fazia meu corpo vibrar antes mesmo de entrar no salão da fraternidade. Benjamin estava ao meu lado, quente, firme, a mão dele na minha cintura como se quisesse me lembrar de que eu era dele, ou talvez para mostrar aos outros. O cheiro dele se misturava ao perfume doce que eu tinha passado de propósito, só para provocar.

Mas então eu a vi. Ela.

A mesma garota que se afastou completamente do grupo do dia para a noite após transar com Ben dentro do carro. O mesmo cabelo loiro preso de qualquer jeito, o mesmo sorriso que, meses atrás, tinha me roubado o ar enquanto a via gozar. E ali estava ela, rindo como se o mundo fosse um lugar seguro para esse tipo de gente, encarando Benjamin sem vergonha alguma na cara.

Meu sangue esquentou tão rápido que quase fiquei tonta. Benjamin continuava dançando, despreocupado, o corpo dele se movendo perto do meu. Talvez ele não tivesse notado… ou talvez tivesse, e apenas disfarçava.

Sem pensar, agarrei a gola da camisa dele e o puxei para mim. Nossos lábios se encontraram com força, não com carinho. Era raiva. Era território marcado. Era um beijo para doer, nele e nela. Senti o corpo dele enrijecer, as mãos subindo para me segurar. O gosto de cerveja, de música alta, de tudo que eu não conseguia dizer.

Quando abri os olhos, percebi que todo mundo estava nos olhando. Inclusive ela.

— O que foi isso? — Benjamin rosnou, a voz rouca no meu ouvido, quase engolida pela batida da música.

Antes que eu respondesse, ele prendeu minha mão e me puxou pelo salão, passando por gente suada, copos no chão, luzes piscando. Subimos as escadas rapidamente com ele praticamente me arrastando.

O quarto que entramos estava escuro, só uma luz fraca da rua entrava pela janela. A porta bateu atrás de nós e, de repente, o som da festa virou um eco distante. Ele me encarou, o peito subindo e descendo.

— Você perdeu a porra da cabeça? — disse, se aproximando.

— Você não é ninguém pra falar de cabeça, Benjamin. — ri com desgosto — Você costuma pensar com a cabeça debaixo...

— Não começa… — ele rosnou.

— Não começa você. Ou quer que eu finja que não vi? Que ela não estava ali te comendo com os olhos? — falei, sentindo o coração bater tão forte que quase doía.

Ele não respondeu. Só ficou me olhando, a mandíbula apertada. E por um instante, no meio da raiva, eu quis beijá-lo de novo.

Ele deu um passo à frente e, por reflexo, eu recuei até sentir as costas tocarem a parede fria.

— Mi-Suk… — disse meu nome baixo, quase um aviso, quase uma súplica.

— O quê? Vai dizer que não foi nada? — minha voz saiu trêmula, mas não de medo — Vai dizer de novo que ela não passou de um erro?

Ele encostou uma das mãos na parede, ao lado da minha cabeça. A proximidade me fez prender a respiração. O calor do corpo dele, o cheiro familiar que me tirava o chão… era injusto sentir isso no meio de uma briga.

— Eu errei — ele disse, finalmente. — Mas você também. Lá embaixo… você queria apenas me marcar como um gado. Eu não sou um objeto, e saber disso... machuca.

— E você conseguiu me machucar primeiro, lembra? — respondi, sem desviar os olhos.

O silêncio entre nós ficou denso, quase palpável. A raiva que queimava no meu peito começou a se misturar com outra coisa, mais perigosa. Ele estava perto demais. Meu coração batia rápido demais.

— Você me deixa louco — Benjamin disse, a voz grave, quase rosnando.

— Ótimo. Assim estamos empatados.

Por um segundo, achei que ele fosse recuar. Mas ele não recuou. Ao invés disso, seu rosto se aproximou, e eu senti a respiração dele roçar a minha boca. A tensão era tão forte que parecia que o quarto encolhia. Eu podia sentir a vontade dele, e sabia que ele sentia a minha também.

— A gente não devia… — murmurei, mas não tinha força na voz.

— Então me manda parar — ele respondeu.

Eu não mandei.

Ele sabia.

Eu via nos olhos dele.

Benjamin sabia exatamente o que estava fazendo, cada movimento calculado para me prender ali, entre o corpo dele e a parede, sem me dar chance de respirar.

E funcionava. Sempre funcionava.

— Você tá brava comigo — ele disse, quase sorrindo. — Mas não consegue me olhar e não querer me beijar.

O atrevimento dele me fez morder o lábio, mais para esconder a reação do que por qualquer outra coisa.

— Para de falar como se soubesse de tudo.

— Eu sei o suficiente — ele respondeu, inclinando-se mais, a mão deslizando da parede para minha cintura. Os dedos dele pressionaram de leve, e foi como se meu corpo traísse minha cabeça.

Eu queria dizer que ele estava errado, que não tinha poder nenhum sobre mim. Mas meu corpo… meu corpo estava mentindo na minha cara.

— Lembra como você me beijou lá embaixo? — ele continuou, a voz baixa, grave, como se fosse um segredo só nosso. — Foi com raiva… mas também foi com fome.

Fechei os olhos, tentando não ceder.

— Benjamin…

— É. Fala meu nome assim. — Ele se aproximou até nossas testas se tocarem. — Não tenta lutar comigo, Mi-Suk. Você nunca ganha.

Era verdade. Eu odiava admitir, mas era verdade. Ele me bagunçava. Pegava minha raiva, minha mágoa, e transformava tudo em outra coisa. Algo quente. Algo que me queimava por dentro e me deixava fraca.

— Você me manipula — falei, a voz falhando.

— Eu só te lembro do que você quer — ele sussurrou, e seus lábios roçaram os meus sem encostar de verdade, só o bastante para me fazer prender a respiração. — E do que eu quero também.

O pior é que ele tinha razão.

O espaço entre nós desapareceu. Eu podia sentir o coração dele batendo rápido contra o meu peito, a respiração quente e irregular, como se ele estivesse tão perto de perder o controle quanto eu.

A mão de Benjamin subiu devagar pela lateral do meu corpo, deixando um rastro de calor por onde passava. Eu devia ter empurrado. Devia ter dito não. Mas minhas mãos, traiçoeiras, já seguravam a camisa dele, puxando-o mais para perto.

— Vê? — ele murmurou, a voz tão baixa que quase se perdeu no ar. — Você quer. Mesmo quando jura que me odeia, você quer.

— Cala a boca — falei, mas soou mais como um pedido do que uma ordem.

Ele sorriu de canto, aquele sorriso que sempre significava problema. Seu nariz roçou o meu, e por um segundo ele parou, só me olhando, como se estivesse decidindo o quanto iria me torturar antes de me dar o que eu queria.

A música da festa, lá embaixo, parecia outra vida. Aqui, havia só o calor, o cheiro dele, a maneira como o corpo dele parecia envolver o meu sem nem precisar de força.

— Me pede — ele disse, a boca tão perto que eu quase sentia o gosto das palavras.

— Não… — sussurrei, mas minha voz já estava fraca.

— Então eu vou fazer você pedir.

Os dedos dele apertaram minha cintura, e ele me prendeu de vez contra a parede. O olhar dele cravou no meu, intenso, como se estivesse me lendo por dentro. Eu senti meu corpo ceder, minha respiração falhar, e naquele instante entendi que a briga tinha acabado, ele tinha vencido.

E eu odiava o quanto eu queria perder.

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