Capítulo 4

Na faculdade, já no meu primeiro ano de Literatura, nos tornamos inseparáveis. Ele no último, e eu, recém chegada, perdida, como sempre fui quando o tinha por perto. Virei a protegida do seu grupo de amigos, uma espécie de troféu silencioso, e todas as meninas queriam ser minhas amigas. Mas o que elas não sabiam era que, no fundo, eu não era nada mais do que uma distração. Apenas mais uma que Benjamin usava para manter a distância de todas as outras.

As festas eram nossas. A música, o calor do corpo das pessoas ao redor, a dança que se tornava cada vez mais sensual e provocativa. E no final, sempre éramos nós dois nos beijando loucamente em seu quarto. Mas nunca passávamos da linha. Benjamin sempre parava antes que fosse tarde demais, antes que o que ainda era possível entre nós se quebrasse irreparavelmente.

Eu estava perdida. Irrevogavelmente apaixonada por ele. E de alguma forma, acreditava que ele sentia o mesmo. Afinal, ele nunca me deixou sair com outros caras. Isso, pensava eu, era a prova de que ele me queira. Mas, olhando agora para tudo que aconteceu, sei que estava apenas me enganando.

Eu fui a sua coisa de conforto. E nada mais.

Era uma tarde qualquer, quente e abafada, com o sol se pondo lentamente no horizonte, e eu estava saindo da biblioteca, caminhando distraída, quando, ao passar pelo pátio da faculdade, ouvi risos e gemidos abafados. O som veio de um carro estacionado perto de uma árvore, um dos lugares mais isolados do campus.

Era o carro de Benjamin.

Eu não sabia exatamente o que esperava encontrar, mas nunca imaginei que fosse aquilo. Quando olhei pela janela embaçada, tudo ficou claro. Dentro do carro, ele estava com uma das meninas que andavam conosco, uma das garotas que eu sempre achei doce, confiável. Ela estava em cima dele, a saia levantada até a cintura, a blusa meio arrancada, os seios quase completamente à mostra. Os corpos se chocavam, suados, num ritmo bruto. Benjamin segurava os quadris dela, seu rosto tinha a expressão de sempre; o mesmo olhar faminto que usava comigo quando estava prestes a me beijar. Mas dessa vez, não era eu quem estava com ele. Era ela, gemendo alto, enquanto ele a puxava mais fundo, alheio a tudo.

O estômago virou. O sangue sumiu do meu rosto e o mundo parou ao meu redor. Eu me senti como se alguém tivesse acabado de me empurrar para o fundo de um abismo gelado. A angústia foi imensa, uma sensação de sujeira, de engano. Como se eu tivesse sido usada, moldada por um homem que eu acreditava ser o único para mim, mas que, na verdade, era só mais um cara qualquer. Eu, que me achava sua, que sempre acreditei que ele me queria, me vi reduzida a nada.

Fiquei parada por alguns minutos, congelada, o peito apertado. A raiva cresceu dentro de mim, uma raiva feroz, cega. Ele, que sempre me fez acreditar que era meu protetor, o meu amigo, o meu irmão, estava ali, fazendo o que fazia com qualquer outra. Com uma de nossas amigas. Eu não valia nada.

Seus olhos se encontraram com os meus no momento em que a garota gemeu alto. E, por um breve segundo, vi pânico estampado em seu rosto. Com as mãos trêmulas, me virei e saí rapidamente, sem rumo. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que precisava sair dali. Eu me sentia suja, arruinada. Como se meu amor fosse algo barato, algo que ele não quisera dar valor.

Mas a raiva não durou muito, como sempre, ele sabia controlar cada botão do meu cérebro.

Poucas horas depois, a porta da minha casa se abriu, e lá estava ele, de joelhos, segurando um buquê de flores. Benjamin estava ali, me olhando com uma expressão sincera, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse me destroçado mais cedo. Ele estava perfeito, mas havia algo em seus olhos que não podia negar: culpa. Ele sabia o que tinha feito.

–  Mi... – ele sussurrou, a voz rouca – Me desculpe. Eu sei que fiz uma merda colossal. Me perdoa, por favor.

Eu olhei para ele, sentindo o peso da raiva novamente, da dor. Aquelas flores que ele me oferecia não significavam nada para mim. Eu as vi como um símbolo da manipulação, do controle que ele sempre teve sobre mim. Mas, ao mesmo tempo, eu estava com medo de me entregar àquela raiva, medo de que ele se afastasse de mim para sempre. E eu não queria isso.

Respirei fundo, os olhos queimando de tanto tentar segurar as lágrimas. Levantei as mãos e toquei o rosto dele. Ele fechou os olhos, esperando. Eu podia sentir o calor da sua pele, a leveza do toque dele. Mas, por dentro, tudo estava congelado.

–  Não sei o que eu sinto agora, Ben. Eu não sei. – minha voz estava carregada de mágoa – Você me quebrou.

Eu vi a dor passar por seus olhos, uma dor real, mas também sabia que ele estava arrependido, de uma forma egoísta, talvez. Ele queria que eu o perdoasse, não por mim, mas para se livrar da culpa que o atormentava.

–  Eu não queria te machucar, Mi. Eu sou um idiota. Só fiz uma merda e agora estou aqui, sem saber o que fazer para que você me perdoe. Eu sou seu, sempre fui. Não sei o que aconteceu comigo, mas, por favor, me perdoa. Eu nunca vou te deixar ir.

Eu olhei para ele e, por um momento, tudo o que eu queria era beijá-lo. Porque, no fundo, eu ainda queria estar com ele. A raiva, a dor, tudo se misturava e, mesmo sabendo o quanto ele me havia machucado, não consegui resistir. Fui até ele e, sem pensar, o beijei. A boca dele estava quente e suave, como se nada tivesse acontecido ali. Ele me puxou para mais perto, e eu me entreguei, com uma intensidade que eu sabia que não deveria ter.

Mas, naquele momento, a sensação de estar no controle, de ter o poder sobre ele, foi mais forte. Eu sabia o que ele queria, e eu sabia o que eu precisava para me sentir melhor. Eu deixei a dor de lado, a raiva foi se dissipando aos poucos, e o beijo se transformou em algo mais. Algo que, no fundo, não devia ser mais do que uma tentativa de me fazer esquecer tudo o que aconteceu.

Ele me abraçou, e eu deixei passar. Talvez por medo de ficar sozinha, talvez por ser mais fácil deixar que ele me convencesse de novo. Eu estava quebrada, mas ele estava ali, como sempre, pronto para consertar com flores e promessas vazias. Eu sabia que não devia, mas o fiz.

Eu deixei passar. E ele, com sua culpa e charme, me teve de novo. E tudo voltou ao normal... por um tempo.

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