O céu ainda era um manto escuro sobre a cidade quando Lucca abriu os olhos, o peito pesado como concreto. Não era o frio da madrugada que o incomodava. Era a lembrança. O passado cobrava sua dívida com juros altos.
Ao lado, Amanda dormia com a expressão serena, os cabelos soltos espalhados pelo travesseiro como seda negra. A respiração dela era leve, quase imperceptível, e o calor do corpo dela sob os lençóis contrastava com o gelo que se espalhava dentro dele.
Ele ficou ali, por longos segundos, a observá-la. Os dedos quase tocaram seu rosto, mas pararam no ar. Como dizer a ela que havia vivido um capítulo inteiro com outra mulher — uma mulher envolta em crimes, mentiras e destruição?
Levantou-se sem fazer barulho. A madeira do assoalho estalou sob seus pés. Caminhou até o escritório e destrancou a gaveta que evitava há anos. O som metálico da chave girando soou como uma sentença.
De dentro, puxou a pasta — grossa, pesada, quase viva em sua memória. Ela exalava o cheiro agridoce de p