Vitória Mancini observava a cidade do alto de sua cobertura como quem contempla um reino prestes a ruir — e, ainda assim, se recusa a largar a coroa.
Os olhos, duros, impenetráveis, não viam prédios ou ruas. Estavam fixos no nada. No vazio entre o passado glorioso e o presente instável. O silêncio da noite era cortado apenas pelo som das unhas vermelhas, impecáveis, tamborilando com precisão cirúrgica no braço da poltrona de couro. Um ritmo calculado. Um prenúncio.
Seu telefone repousava ao lado, ainda quente da última ligação. E o que fora dito ali não era um pedido — era uma ordem.
— Está tudo pronto? — sua voz ecoara seca mais cedo, firme como aço polido, ao velho contato do setor jurídico da Construtora Mancini. — Quero o dossiê completo sobre o Lucca. Toda a movimentação desde que ele assumiu interinamente. Os números. As falhas. As rachaduras. E quero isso rápido.
Houve hesitação. Milésimos demais para um homem que devia a vida profissional a ela.
Vitória não perdoava silêncio.