O dia se tornara claro, alto demais. A luz atravessava as cortinas do quarto com uma insolência que eu não estava pronto para enfrentar. O sol, impassível em sua soberania, desafiava a escuridão da noite anterior, trazendo consigo o peso daquilo que tínhamos feito. Pisava sobre as sombras com uma crueza que me atingia como um golpe.
Senti a dor primeiro, os hematomas ainda latejando, como se o meu corpo estivesse tentando me lembrar do que havia acontecido. Mas o que realmente me despertou não foi isso. Foi o vazio ao meu lado. A ausência dela, que preencheu o espaço do quarto de uma forma tão palpável que quase consegui tocá-la. E foi aí que a lembrança veio, arrastando comigo a intensidade da noite anterior.
O rosto de Mavi, sob o meu. Os olhos dela semicerrados de prazer e de confusão. O corpo dela, arqueando-se contra o meu. Como se me pertencesse. Como se fosse só minha. Aquela noite, aquele momento, não tinham sido apenas um encontro. Não para mim. E, por mais que tentasse fugir