Capítulo 23
Mariana
Na manhã de segunda-feira, vesti a roupa com mais cuidado do que o habitual. Não era um vestido novo, nem uma maquiagem especial. Escolher uma blusa que cobrisse bem o pescoço, evitar decotes, nada muito justo. Não que eu estivesse com vergonha do que vivemos, pelo contrário. Mas sabia que ali, dentro daquelas salas, existiam fronteiras que precisavam ser respeitadas. Ou, ao menos, disfarçadas com elegância.
Henrique não me mandou mensagem naquele dia. E eu também não mandei. Mas não houve silêncio. Houve pacto.
Um acordo implícito entre olhares que sabiam demais.
Ao chegar na faculdade, os corredores pareciam iguais aos de sempre, mas dentro de mim tudo era diferente. Caminhei com passo firme, tentando ignorar os olhares, as conversas de fundo. Tentei me lembrar que éramos bons em esconder. Sempre fomos.
Na sala, ele já estava lá. A camisa azul clara, os óculos no nariz, folheando o caderno com uma concentração que beirava a encenação. Sentei na terceira fileira,