Capítulo 11
Mariana
Eu precisava sair. Chiara dizia que meu apartamento parecia mais uma câmara de hibernação do que um lar. Então, obedecendo a sugestão dela e ignorando minha resistência natural a lugares movimentados, fui até a feirinha de livros usados no centro. Não estava buscando nada específico, só o tipo de silêncio que só existe entre estandes de páginas amareladas.
Foi quando o vi.
Estava de costas, curvado levemente sobre uma banca, os dedos longos folheando um exemplar grosso com capa azul-marinho. Reconheci Henrique Azevedo antes mesmo que meu cérebro aceitasse que aquilo era real. Meu corpo soube primeiro. O coração apertou, e os pés hesitaram entre seguir ou sumir.
Não havia cátedra entre nós. Nenhuma mesa, nenhuma aula, nenhum contexto previsível. Era ele, no mundo, como qualquer pessoa. E ainda assim, tudo nele exalava aquela mesma contenção controlada que me fascinava.
Pensei em ir embora. Mas ele virou o rosto. E me viu.
Os olhos dele demoraram um segundo a reagir,