Selene Castiel
Meus pés desceram as escadas como se pisassem em vidro quebrado. Cada passo doía, mas eu mantive a postura, ajeitando a alça da blusa como se pudesse, com aquele gesto bobo, consertar tudo o que estava errado. A fome era uma coisa distante, um incômodo secundário diante do furacão que ardia no meu peito.
A vida, essa piada cruel, reservara mais uma cena para testar meus limites.
Ao dobrar o corredor, o mundo desabou em câmera lenta.
Eles estavam lá.
Caius e Clara.
Na minha cozinha.
No meu território.
O ar escapou dos meus pulmões como se alguém tivesse me perfurado com uma faca.
O tilintar do gelo no copo dele.
O arrastar da colher na caneca dela.
O cheiro do café dele misturado ao perfume que eu escolhera para ele.
E então...
Vi.
O rosto dela.
A pele antes perfeita agora marcada por violência - o curativo na têmpora escondendo Deus sabe que tipo de trauma, o roxo que descia pela mandíbula como tinta derramada, o corte no lábio que ainda sangrava em ferida aberta. O