Caius Varella
O som da porta batendo ainda ecoava em mim, como um tiro que não para de reverberar. Não era só nos ouvidos—era no peito, no estômago, na carne viva da alma que ela levou consigo.
Sentei na beirada do sofá, os cotovelos fincados nos joelhos, as mãos enterradas no cabelo, como se pudesse arrancar de mim aquele vazio que doía mais que qualquer facada. O ar faltava. O chão faltava. O sentido faltava.
Porra. Porra, Selene.
Fechei os olhos e deixei a dor me consumir por um instante. A mão bateu na coxa, com força, como se a dor física pudesse substituir a outra—a que não tinha remédio, não tinha sutura, não tinha perdão fácil. Mas só fez piorar.
— Que merda... — a voz saiu rouca, como se tivesse engolido brasas. — Que merda, Caius.
Levantei. Andei em círculos, como um lobo enjaulado, farejando o rastro de algo que já não existia mais. O cheiro dela ainda impregnava o ambiente. A casa. O ar. Minha pele. Sigo até a sala, em busca de ar, de algo que arranque esse sufoco de mim. V