Caius Varella
O silêncio dentro do carro era tão denso que parecia se expandir, ocupar cada centímetro do espaço entre nós.
Ela estava do meu lado. Selene. A mulher que, minutos antes, tinha enfrentado uma sala lotada de tubarões engravatados com o salto mais alto e o discurso mais afiado da história daquela empresa.
Mas agora…
Agora ela encarava o celular como se estivesse lendo a própria sentença de morte.
— Tá tudo bem? — perguntei, sem rodeio.
Ela piscou devagar, ainda olhando pra tela.
— Tô.
Mentira.
O carro seguia. A cidade passava. Mas o clima? Estático.
Fiquei olhando de canto. O queixo levemente erguido, o pescoço tenso. As mãos sobre o colo, mas não relaxadas — presas. Como se estivesse segurando alguma coisa.
E estava.
— Você mandou bem lá em cima. — falei.
— Obrigada. — ela respondeu, automática.
Sem sorriso. Sem ironia. Sem alma.
Era Selene… mas não era.
Essa versão dela era blindada demais. Dura demais.
Até pra mim.
Chegamos em casa.
Ela desceu do carro primeiro, entrou