VITTORIO NARRANDO
Um ano e seis meses.
Nesse tempo, vinte e três homens me traíram. Nove mulheres tentaram se infiltrar na minha casa usando o corpo como moeda. Quatro chefes rivais caíram. Dois fingiram cair. E um… um ainda está escondido, feito rato, esperando o momento de me apunhalar.
Mas ninguém sobrevive tanto tempo nesse império sem aprender a esperar.
A morte é paciente. E eu também sou.
Desde o dia em que aquela mulher — a mulata da carga trocada — chegou à minha boate, eu soube que ela era diferente. Era pra ter sido descartada. Realocada. Vendida. Mas ficou.
Ela não dançava. Não se vendia. Não aceitava homens. Trabalhava em silêncio, quase invisível, como uma sombra viva entre os espelhos vermelhos de La Notte. A maioria das meninas cai em pouco tempo. Ou se entrega, ou enlouquece. Ela não. Resistia.
Apenas duas vezes meus olhos cruzaram com os dela.
A primeira, no dia em que acordou. Amarrada, confusa, mas com o olhar de quem já viu o inferno. A segunda, meses depois, qua