Na manhã seguinte, Mila acordou com o som de passarinhos se revezando na mureta da cozinha.
A casa, iluminada pelo sol suave, parecia mais viva do que nunca.
Como se, a cada dia, ela se deixasse ser habitada de verdade.
Toto dormia no canto, a barriga subindo e descendo num ritmo preguiçoso.
Mila colocou água pra ferver, abriu o notebook na bancada e releu o e-mail da editora:
"Mila, estamos animados com a possibilidade de ter seu olhar sensível no projeto. Precisamos que você nos envie uma proposta de tópicos que considere interessantes: lugares históricos, personagens locais, tradições e memórias que mostrem a riqueza da Albânia além do óbvio."
Ela terminou a leitura e fechou os olhos.
O peito apertou de um jeito bom.
A riqueza da Albânia além do óbvio.
Talvez fosse isso que ela procurava desde sempre.
No fim da manhã, Blerim chegou com o casaco aberto, o sorriso tranquilo de quem já sabia que ficaria o dia todo.
Ela o encontrou na porta, sem cerimônia, e apontou o notebook aberto.