Na manhã seguinte, Mila acordou antes que o sol subisse por inteiro.
Não foi por ansiedade, nem por insônia.
Era só o corpo descobrindo um novo ritmo, diferente daquele que tinha em Roma.
Levantou devagar, calçou os chinelos e foi até a cozinha.
A claridade suave atravessava o vidro da porta lateral, pintando o chão de retângulos dourados.
Por impulso, destrancou a fechadura e empurrou a porta.
O ar frio entrou de uma vez, fazendo-a estremecer.
Mas, em vez de recuar, ela avançou até a soleira.
Ali, entre a parede da casa e a cerca de madeira, havia um pátio esquecido, tomado por mato e pequenas flores silvestres.
O chão era de pedra irregular, coberta de musgo em alguns pontos.
À direita, o terreno descia suavemente até onde começava uma faixa de árvores baixas.
Mais além, o lago refletia o céu pálido da manhã.
Mila nunca tinha reparado direito naquele espaço.
Talvez porque, nos primeiros dias, só enxergasse a casa como um lugar cheio de memórias alheias — e não como algo onde pudesse