O corredor continuava vazio, silencioso, mas o ar entre eles estava pesado, carregado demais para ignorar.
Dante ainda a mantinha contra a parede, o corpo colado ao dela, os olhos cinzentos cravados nos dela como se pudesse decifrar cada segredo. O toque possessivo em seu braço era firme, mas não agressivo — era o tipo de domínio que feria o orgulho mais do que a pele. — Me solta, Dante — ela exigiu, a voz firme, mesmo com o coração acelerado. Ele inclinou o rosto, os lábios perigosamente próximos da curva do pescoço dela. — Vai fingir que não sente? — murmurou, a respiração quente roçando a pele sensível. — Essa guerra entre nós… não é só poder, Bellucci. Tem mais aqui do que você quer admitir. Ela sentiu um arrepio, amaldiçoando o próprio corpo por reagir, mas não se permitiu fraquejar. — Sinto nojo de você — rebateu, o olhar verde ardendo em raiva e desafio. — E do que você representa. Dante riu baixo, o som grave e debochado. — Nojo… desejo… às vezes, tudo se mistura. E você, Amara, está misturada demais nisso pra sair limpa. Ele soltou o braço dela, mas permaneceu próximo, tão perto que o perfume amadeirado dele invadiu os sentidos dela. Amara endireitou-se, ajeitando a postura, o olhar orgulhoso intacto. — Não importa o quanto tente me intimidar. Não sou uma das suas conquistas, nem uma mulher que vai se render só porque você rosna ao meu lado. Dante ergueu uma sobrancelha, divertido. — Continua me provocando desse jeito, e eu vou te mostrar o que acontece quando alguém quebra as regras desse jogo — disse, com a voz arrastada, carregada de ameaça e desejo. Amara estreitou os olhos. — Você já me tirou o que era meu. Não ouse achar que vai me dominar também. Ele se afastou um passo, mas o sorriso cínico ficou. — Não preciso tirar nada de você. No fim, você mesma vai entregar… por vontade própria. Ela soltou uma risada seca. — Continua sonhando, Moretti. Ele virou-se, caminhando pelo corredor com calma, como se controlasse o tempo e o ambiente, deixando-a ali, ainda com o corpo em combustão e a mente fervendo de raiva. A guerra deles estava longe de acabar. E, no fundo, Amara sabia: quanto mais resistisse… mais perigoso aquilo se tornaria. Amara respirou fundo, tentando apagar a sensação da pele arrepiada, o calor nos lábios, o cheiro dele que ainda pairava no ar. Maldito Dante Moretti. Ele sabia exatamente como provocar, como invadir o espaço dela, e o pior… como fazê-la sentir. Mas ela não era uma idiota apaixonada. Isso era poder, política, território — e ela não esqueceria disso nem por um segundo. Caminhou pelo corredor da mansão, os saltos ecoando pelo mármore, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. A cada olhar torto dos capangas, a cada cochicho, o orgulho dela se inflamava. Deixariam ela de lado, colocariam Dante como líder, mas não calariam a voz dela tão fácil. Ao chegar à varanda dos fundos, deixou o vento gelado da noite bater no rosto. Precisava de ar, precisava de foco. Mas não teve tempo para pensar muito. Matteo apareceu, ofegante, os olhos arregalados. — Senhorita Bellucci… tem outro problema. Ela se virou imediatamente, os sentidos em alerta. — Fala. — Um carregamento da família foi interceptado. Explodiram o caminhão. Ninguém sobreviveu. O coração dela apertou. Primeiro o corpo deixado na estrada, agora isso. Era uma caçada aberta contra os Bellucci. — Quem fez isso? — questionou, os olhos estreitos, a raiva pulsando nas veias. Matteo hesitou, trocando o peso de um pé para o outro. — Ainda estamos investigando. Mas… — ele engoliu em seco — dizem que tem dedo da família Ricci nisso. Amara sentiu o estômago revirar. Os Ricci eram velhos inimigos. O tipo de cobra que atacava pelas sombras. — Onde está o Dante? — perguntou, já se preparando mentalmente para o próximo embate. — No salão principal. Reunião com os conselheiros. Quer que eu… — Não. Eu mesma falo com ele — cortou, já se virando, o olhar endurecido. Se o Conselho achava que ia deixá-la de escanteio… se Dante achava que poderia protegê-la e mantê-la de fora… Estavam todos muito enganados. A guerra estava só começando. E Amara Bellucci estava pronta para queimar junto, se fosse preciso. O corredor parecia se alongar a cada passo, o piso frio de mármore ecoando sob seus pés. Amara atravessou as portas do salão principal sem pedir licença, os olhos flamejando, o sangue pulsando de raiva e desafio. Os conselheiros se calaram ao vê-la. Dante estava de costas, debruçado sobre a mesa, os ombros largos tensos, gesticulando enquanto falava sobre o ataque. Ele se virou devagar ao sentir a presença dela, os olhos cinzentos analisando cada detalhe — e, mesmo sem dizer nada, o desprezo pelo sobrenome Bellucci estava ali, evidente, frio, escondido sob a fachada de indiferença. Amara não se intimidou. Entrou no salão com a cabeça erguida, cruzando o olhar com os homens sentados ao redor da mesa. — Estão discutindo a queda da minha família sem mim? — disparou, a voz firme, cortante como navalha. Tommaso bufou, impaciente. — Está tudo sob controle, senhorita Bellucci. Dante soltou uma risada seca, passando a mão pela barba bem feita. — Sob controle? — ele repetiu, com ironia — Explodiram o carregamento. Mandaram corpos para a nossa porta. Isso aqui está longe de estar sob controle. Amara manteve o queixo erguido, encarando Dante. — E o que o tão adorado executor do Conselho pretende fazer? Vai enterrar mais um pedaço dos Bellucci e fingir que está resolvendo? O olhar dele escureceu, o maxilar travado. Ela sabia onde cutucar. — Cuidado com as palavras, Amara — a voz dele saiu baixa, perigosa — Eu posso ser obrigado a proteger o nome Bellucci… mas não significa que eu engulo essa merda de sobrenome. Eu odeio essa família. Sempre odiei. Ela sentiu o peito apertar, mas o orgulho falou mais alto. — Ótimo. Porque o sentimento é mútuo — rebateu, os olhos verdes faiscando — Mas enquanto for o meu nome que colocam em jogo… eu falo. Eu comando. E se você acha que esse juramento te dá poder sobre mim, está enganado, Moretti. O silêncio caiu pesado sobre a sala. Os conselheiros trocavam olhares tensos, enquanto a tensão entre os dois parecia prestes a explodir. Dante se aproximou, parando a poucos centímetros dela, o olhar frio, a voz baixa e carregada de ameaça: — Eu não preciso do seu comando. Eu preciso que você sobreviva. E se pra isso eu tiver que arrancar todos os inimigos do caminho, eu faço. Não por você, mas porque seu nome ainda mantém esse império em pé. Só por isso. Amara sorriu, amarga. — Você vai perceber que eu não sou só um nome. E que a última coisa que eu vou fazer… é morrer fácil. O salão ficou em silêncio, o jogo de poder e ódio mais forte do que nunca. E nenhum deles estava disposto a recuar primeiro. Dante inclinou o rosto, os olhos cravados nos dela, tão próximos que Amara sentiu o calor da respiração dele. — E se você fraquejar, Amara… — a voz dele saiu baixa, cortante como lâmina — eu mesmo a matarei. O salão inteiro congelou. Alguns conselheiros desviaram o olhar, outros observavam com um misto de aprovação e medo. Mas Amara não recuou. O peito dela subia e descia com força, o sangue fervendo, os olhos verdes queimando de raiva e orgulho. — Vai ter que ser rápido, Moretti — ela rebateu, o tom afiado como veneno — Porque pra me matar… primeiro você vai ter que me derrubar. E isso, querido, ninguém conseguiu até hoje. Dante sorriu, um sorriso torto e sombrio, o tipo de sorriso que prometia guerra e prazer ao mesmo tempo. — Está desafiando o homem errado. — Não, estou desafiando o homem certo. O que odeia o nome Bellucci, mas agora carrega ele amarrado ao próprio pescoço. E isso, Dante… você vai ter que engolir. O silêncio voltou a cair sobre o salão, pesado, ameaçador. O jogo estava lançado. E entre ódio, desejo e ameaças veladas, só uma coisa era certa: nenhum dos dois sairia ileso dessa aliança forçada.