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O JOGO QUEBRADO
O JOGO QUEBRADO
Por: Rose
Clara Valentina Costa

Vinte e nove anos. Brasileira de alma firme. Nova-iorquina por escolha. Uma mulher que aprendeu a viver só… sem nunca estar sozinha.

O céu de Nova York ainda era azul escuro quando Clara abriu os olhos.

Não precisou do alarme.

Ela nunca precisava.

Tinha aquele tipo de sono leve de quem sabe que o mundo gira mesmo quando se fecha os olhos.

E o dela, girava rápido demais pra adormecer por completo.

Ficou alguns segundos deitada, encarando o teto, ouvindo os ruídos abafados da cidade despertando devagar. Respirou fundo. Sentou na cama. Pés no chão.

Silêncio.

Nenhuma pressa. Mas também nenhum atraso.

Havia algo de quase sagrado na forma como ela começava seus dias.

Não era só rotina.

Era um ritual de reencontro com ela mesma.

Na cozinha, o café já estava passado. Forte, encorpado, como gostava.

Levou a caneca até a janela. E, mesmo com o vidro fechado, sentiu o ar de Manhattan pulsando lá fora.

Frio, concreto e infinito.

Ali, entre os prédios que pareciam tocar o céu, Clara sentia-se, ao mesmo tempo, minúscula e invencível.

Era cedo. Mas pra ela, cedo era o momento mais seguro.

Enquanto o resto do mundo ainda se escondia debaixo dos lençóis, ela vestia coragem.

Legging. Tênis. Cabelo preso num coque leve. Uma blusa fina e o fone no ouvido.

Na rua, caminhava em passos firmes. Mas dentro, havia calma.

Aquela calma de quem aprendeu a se bastar.

De quem foi forçada a crescer antes da hora…

E mesmo assim, se recusou a endurecer por dentro.

Clara não era de muitas palavras pela manhã.

Preferia ouvir.

A música. A cidade. O som da própria respiração durante a corrida.

Porque era nesses pequenos detalhes que ela encontrava a força que o mundo sempre tentou arrancar dela.

Piscina. Esteira. Academia.

Cada movimento era mais do que físico — era emocional. Era a forma que ela tinha de lembrar a si mesma que nada nela foi dado. Tudo foi construído.

E ela tinha orgulho disso.

Da mulher que havia se tornado.

Da vida que reconstruiu do zero, quando tudo parecia perdido.

Foi aos doze anos que Nova York virou casa.

Ou, pelo menos, virou cenário.

O lar mesmo ela construiu com o tempo. Tijolo por tijolo.

Com a ajuda de três mulheres que hoje eram mais irmãs do que amigas.

Rebeca. Lívia. Nanda.

A família que a vida não lhe deu — mas que o coração escolheu.

Juntas, elas formavam algo raro. Firme. Bonito.

Um refúgio no meio do caos.

Um lembrete diário de que não importa o que aconteça… ninguém precisa enfrentar o mundo sozinha.

O relógio marcava 7h22 quando Clara entrou no elevador da Hudson Tower.

Tinha um café em mãos, um sorriso nos lábios, e aquela energia silenciosa que só os muito determinados carregam.

Enquanto o elevador subia, o coração batia calmo.

Mas, por dentro, algo dizia que aquele dia traria mais do que e-mails, reuniões ou metas.

Ela não sabia ainda.

Mas o destino, esse roteirista teimoso, já estava preparando uma reviravolta.

-E pela primeira vez… talvez Clara não estivesse no comando.

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