Ela piscou.
E em menos de um segundo, não era mais Clara Valentina — CEO, mulher elegante, invicta — no meio da festa mais luxuosa de Manhattan.
Era só uma menina.
De pantufas.
Sentada na ponta da cama de um quarto que nunca foi seu. Um quarto onde o tapete escondia mais do que poeira. Onde as paredes sabiam segredos que ninguém ousava repetir.
O som abafado da TV na sala. A porta entreaberta. O corredor iluminado demais pra hora da noite. E o silêncio dele.
Um silêncio cheio de dentes.
O cheiro de cigarro entrando primeiro. Depois o ranger do assoalho. O som da porta abrindo devagar. E o olhar dele.
Aquele olhar.
De quem se aproxima devagar demais pra ser inocente.
De quem oferece uma xícara de chá… pra medir o medo que sente no seu recuo.
Ela fechou os olhos no presente, tentando arrancar o passado com a força da respiração.
Respirou fundo.
E sorriu. Um daqueles sorrisos que cortam por dentro.
Dante ainda a olhava. Não pressionava. Mas a tensão nos ombros, o maxilar trincado, e os o