A carta tremia nas minhas mãos. A mensagem era clara, mas o significado era nebuloso. "Fique atento". Aquelas palavras ressoavam em minha mente, repetindo-se como um eco que não conseguia se dissipar. Alguém sabia que eu estava chegando perto da verdade. Mas quem? E por que esse aviso tão enigmático? Olhei para Helena, que estava sentada na cama, observando-me com uma expressão preocupada. Ela havia percebido a mudança na minha postura e agora parecia mais tensa do que antes. — O que é isso, Arthur? — ela perguntou, sua voz suave, mas carregada de uma inquietação que não poderia esconder. Eu mostrei a carta para ela, sentindo uma onda de frustração subir pela garganta. Mas, quando ela leu, seus olhos se arregalaram, e pude ver o receio crescer neles. — Isso… não parece bom. Alguém está tentando te avisar, mas não de uma forma que possa te ajudar diretamente. É uma ameaça velada. Aquelas palavras caíram como um peso sobre os meus ombros. Eu tinha quase certeza de que as pistas so
Capítulo 20 – O Despertar do Passado O vento gelado cortava a pele enquanto eu caminhava em direção à entrada do orfanato. Havia algo estranho no ar naquela manhã, um pressentimento que não conseguia identificar. Talvez fosse o peso da mudança, ou talvez o fato de eu finalmente estar começando a descobrir quem realmente era. As palavras da diretora, sua expressão sombria e fria, ainda ecoavam na minha mente. Ao entrar, um cheiro familiar de café queimado e papel velho me atingiu, fazendo meu estômago revirar. Eu sabia que nada seria mais o mesmo. Os velhos corredores, as paredes de cimento, tudo parecia tão distante agora. Eu, que sempre fui apenas "o garoto do quarto sete", agora me via como alguém com um passado, uma história que precisava ser desenterrada. As crianças estavam em seus lugares, em silêncio, como sempre. Algumas brincavam, outras estavam em seus cantos, cada uma com seus próprios sonhos e medos. Mas nada daquilo parecia importar para mim no momento. Eu estava perdi
O relógio na parede do escritório da advogada batia sem parar, cada tique-taque parecendo um lembrete constante do peso que Samuel sentia nos ombros. Era como se o tempo estivesse se arrastando, puxando-o para uma realidade que ele ainda não conseguia abraçar completamente. Ele havia enfrentado tantos obstáculos até aquele momento, mas o verdadeiro teste estava prestes a começar. Samuel observava o envelope sobre a mesa. O papel grosso e a caligrafia formal, algo tão simples e tão importante, escondiam a chave para sua liberdade. Ao abrir, seus olhos correram pelas palavras, uma a uma, até finalmente encontrarem o nome que ele buscava: Eduardo Camargo. O pai que ele nunca conheceu. O homem que, por tanto tempo, tinha sido apenas uma sombra no seu passado. "Você finalmente tem a resposta, Samuel", pensou ele, quase com um riso irônico. Mas, por mais que a verdade estivesse diante dele, ainda havia muitas perguntas sem resposta. Por que Eduardo o havia deixado no orfanato? O que real
O dia seguinte chegou com uma sensação de tensão no ar, como se Samuel estivesse prestes a dar um passo em direção a algo irreversível. Ele tinha os documentos, a confirmação do DNA, a verdade absoluta em suas mãos, mas isso não fazia com que a realidade fosse mais fácil de aceitar. A visita a Isadora, a filha de Eduardo, seria o confronto decisivo. Ele sabia que ela não teria piedade. A mulher que ele sempre soubera ser a herdeira legítima do império, aquela que nunca havia acreditado em sua existência, não estava pronta para aceitar a verdade. Ele sabia que ela provavelmente tentaria de tudo para deslegitimá-lo, para provar que ele não tinha direito algum à herança que estava à sua espera. As palavras de sua advogada ainda ecoavam em sua mente: "Isadora não vai ceder fácil. A herança de Eduardo Camargo não é algo que ela simplesmente entregará." Samuel sentia o peso da responsabilidade sobre si. Não era sobre o dinheiro ou o poder que aquela herança representava. Era sobre sua ide
O dia seguinte não trouxe a tranquilidade que Samuel esperava. As palavras de Isadora ainda estavam ecoando em sua mente. A frieza com que ela o tratou, o desprezo evidente em sua voz, tudo isso fez com que ele se questionasse se realmente tinha algum direito de estar ali. Mas a resposta estava clara em sua mente: ele não havia feito nada de errado. Ele não havia pedido por nada disso. Ele não estava buscando vingança, nem poder. Ele só queria entender a verdade. Sentado em sua pequena sala no orfanato, Samuel observava pela janela a movimentação das crianças no pátio, suas risadas e brincadeiras sem preocupações. Era difícil entender como sua vida, que um dia foi tão simples e cheia de incertezas, agora estava marcada por disputas e segredos familiares. Ele se sentia deslocado entre dois mundos: o mundo dos filhos legítimos e o mundo dos órfãos, no qual ele crescera. O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Ele hesitou por um momento antes de atender. Era o advogado, Dr.
A noite não trouxe descanso para Samuel. Ele se revirava na cama, tentando organizar os pensamentos que se misturavam, como peças de um quebra-cabeça difícil de montar. O peso da decisão sobre a herança e o que fazer com ela ainda o consumiam. A visita à sua mãe o fizera refletir ainda mais sobre os caminhos a seguir, e uma sensação de urgência crescia dentro dele. Algo estava prestes a acontecer, algo que ele ainda não conseguia entender totalmente. Mas o que quer que fosse, ele precisava estar preparado. O telefone tocou logo pela manhã, tirando-o de seus devaneios. Era Dr. Mário novamente. — Samuel, temos novidades. Eu sugeri que tentássemos um acordo com Isadora. Ela se recusou, mas me enviaram uma carta... uma carta que pode mudar tudo. — a voz do advogado estava tensa, e isso fez o coração de Samuel bater mais rápido. — O que é? — Samuel perguntou, a curiosidade misturada com a apreensão. — Não posso revelar muito por telefone, mas Isadora parece ter algo muito importante c
O amanhecer trouxe consigo uma sensação diferente. O ar estava mais fresco, quase como se a cidade estivesse se renovando junto comigo. O som dos pássaros era mais intenso, e as árvores que cercavam a pequena casa onde morava com Clara e Helena pareciam sussurrar segredos que eu ainda não compreendia. Nos últimos dias, a fundação estava prosperando. O que começou como uma ideia em uma mesa de café com Helena se transformou em um projeto sólido que já ajudava muitas crianças a encontrarem um lar. Às vezes, ao olhar para aquele lugar que construímos, não conseguia acreditar no quanto minha vida havia mudado. Helena ainda estava dormindo quando decidi sair para caminhar. Ela, com sua natureza calma e doce, sempre me dizia para aproveitar o silêncio da manhã. Clara já havia acordado e estava cuidando de suas pequenas atividades no jardim, algo que lhe dava uma paz que eu não conseguia explicar. Parei em frente à janela e observei o movimento lá fora. Os raios de sol iluminavam os cami
A manhã amanheceu nublada, e as ruas de Valmor estavam cobertas por um manto de neblina. O céu, sempre claro e azul nas primeiras horas do dia, agora parecia mais distante, como se estivesse refletindo a confusão que se alojava no meu peito. Algo estava prestes a acontecer, algo que eu não conseguia prever, mas que, de alguma forma, sentia que chegaria com força. Helena ainda estava dormindo quando saí de casa. A cada passo que dava, o som dos meus pés na calçada parecia mais forte, mais urgente. Eu sabia que precisava enfrentar as verdades que estavam escondidas em meu passado, que precisavam ser reveladas, não apenas para mim, mas também para os outros. Era algo que me incomodava, que me fazia acordar no meio da noite, mas que eu ainda não tinha coragem de encarar. Cheguei à fundação mais cedo do que o normal. As portas estavam fechadas, mas havia algo de diferente no ar. O silêncio que habitava aquele lugar agora parecia carregado de expectativa, como se todos os meus esforços t