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Capítulo 5- Curiosidade Mata

O castelo estava banhado em sombras quando Céline saiu de seus aposentos. Naquele fim de tarde, o vento uivava pelos corredores como um lamento antigo, e cada passo dela ecoava alto demais nas pedras geladas. As tochas tremeluzentes nas paredes lançavam clarões amarelos que pareciam dançar com as estátuas sombrias e os quadros de ancestrais que a observavam com olhos vazios.

Ela andava devagar, como se pudesse evitar chamar atenção, mas o peso do silêncio era quase insuportável. Seu coração batia mais rápido a cada curva do corredor, e mesmo que tivesse sido avisada para não sair sozinha, algo a impulsionava a descobrir o que havia além dos salões proibidos.

Passou por portas maciças de madeira, algumas entreabertas, deixando à mostra vislumbres de salões vazios ou de pequenas bibliotecas onde livros antigos jaziam como relíquias esquecidas. As outras mulheres estavam reunidas em um salão comum, mas Céline sentia que precisava de ar, precisava ver o que havia além das conversas contidas e dos risinhos nervosos.

O castelo era um labirinto — e ela, uma intrusa. Mas cada passo parecia levá-la mais fundo em um segredo que ainda não conseguia decifrar.

De repente, ouviu um som. Um sussurro baixo, como se alguém respirasse pesado atrás dela. Parou, gelada. Virou-se devagar, mas o corredor estava vazio. Um arrepio subiu por sua espinha, e ela segurou a respiração, tentando escutar além do martelar de seu coração.

— Deve ser só o vento — murmurou para si mesma, mas suas mãos tremiam.

Continuou andando, os sentidos alertas. Logo chegou a uma porta que nunca tinha notado antes. Era diferente: de madeira escura, com detalhes entalhados de lobos em fúria. Parecia um aviso, mas algo a atraía irresistivelmente. Céline levou a mão até a maçaneta fria e empurrou devagar. A porta rangeu, e ela prendeu a respiração.

A sala além dela era maior do que qualquer outro cômodo que já vira no castelo. Paredes de pedra escura, tochas acesas em suportes de ferro retorcido, e no centro… um altar de pedra. Havia símbolos estranhos esculpidos ali, símbolos que pareciam vibrar com uma energia antiga e perigosa.

O cheiro de incenso pesado e algo mais — ferro e terra molhada — encheu suas narinas, e Céline sentiu o estômago revirar. Seus olhos se fixaram no altar, onde marcas vermelhas, talvez de sangue, escorriam pelas bordas e manchavam o chão de pedra.

Ela recuou um passo, o terror subindo como um nó na garganta. Era ali que ele fazia seus rituais? Era ali que as mulheres eram…? Ela estremeceu, apertando as mãos contra o peito para não gritar.

Mas antes que pudesse fugir, algo se moveu na escuridão. Um vulto, enorme, saiu das sombras ao fundo. Ela não conseguia ver seu rosto, apenas a silhueta de ombros largos e um brilho animal nos olhos.

— O que está fazendo aqui? — a voz era baixa, rouca, quase um rosnado. Não era Auren. Era outro homem, um dos guardas do Alfa, talvez. Mas ele tinha o mesmo ar de fera contida, e Céline soube, sem dúvida, que estava em perigo.

— Eu… eu estava só andando — gaguejou, tentando recuar ainda mais. Mas o vulto avançou.

— Este lugar não é para você — ele rosnou, a voz carregada de ameaça. — Volte para seus aposentos, humana, antes que se arrependa.

Ela queria correr, mas suas pernas pareciam presas ao chão. O homem deu mais um passo e, mesmo no escuro, Céline viu o sorriso que se abriu em seus lábios. Não era um sorriso amigável.

— Você acha que pode vagar por onde quiser? — ele perguntou, com um toque de diversão cruel. — Aqui, cada mulher tem seu lugar. E o seu não é aqui.

Céline sentiu o medo tomá-la, mas algo dentro dela se rebelou. Não podia se curvar tão fácil, não podia deixar que a vissem fraca. Endireitou o corpo, mesmo tremendo.

— Eu só estava curiosa — disse, a voz mais firme do que sentia por dentro.

Ele soltou uma risada baixa, seca. — Curiosidade mata. — Então ergueu a mão, como se fosse tocá-la, mas parou a poucos centímetros de seu rosto. — Agora suma daqui antes que eu faça você pagar pela ousadia.

Céline não precisou de mais aviso. Saiu da sala quase correndo, o coração batendo tão forte que doía em seu peito. Correu pelos corredores, guiada apenas pelo instinto de sobrevivência.

Quando voltou ao seu quarto, Céline fechou a porta com força, os dedos tremendo no trinco de metal polido. Encostou-se ali, tentando recuperar o fôlego. O quarto, com seus tapetes luxuosos, cortinas pesadas e uma cama larga e macia, parecia um refúgio – mas, ao mesmo tempo, uma prisão dourada.

Ela percorreu o espaço com o olhar: a lareira acesa, as almofadas bordadas, o perfume de flores frescas no vaso sobre a mesa de canto. Nada ali lembrava a sala escura e fria onde quase tropeçara no perigo. Mesmo assim, a sensação de opressão permanecia em seu peito.

Céline sentou-se na beirada da cama, o colchão macio afundando sob seu peso, mas o conforto não lhe trouxe alívio. Ainda sentia o cheiro de ferro e incenso, ainda ouvia a voz do guarda ecoando em sua mente. Ela apertou as mãos no colo, o medo transformado em algo mais profundo: uma determinação que começava a florescer, ainda que tímida.

Naquele castelo, as mulheres eram vigiadas, mimadas como troféus, mas mantidas à sombra de vontades maiores. Céline sabia que, mais cedo ou mais tarde, seria chamada — e precisaria estar pronta para lutar com o que tinha. Mesmo que tudo à sua volta fosse seda e ouro, ela não se deixaria enganar.

Naquela noite, deitada em lençóis de cetim, Céline encarou o teto alto e silencioso. E prometeu a si mesma que, ao contrário do que queriam que acreditasse, ainda não estava derrotada.

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