Clara

O sol mal atravessava as montanhas quando saí da pousada, um café quente na mão e uma decisão firme no peito. Porque tudo depende apenas de mim.

A cidade vizinha tinha uma pista de gelo antiga. Coberta, isolada do barulho do mundo — exatamente como eu me sentia por dentro. Era lá que eu queria estar. Era lá que eu iria me sentir viva.

Peguei meus patins. Um impulso, talvez. Um reencontro, com certeza. Mas eu só precisava me sentir abraçada pela minha mãe, nem que fosse em memórias.

O primeiro toque do gelo debaixo dos meus pés trouxe um arrepio que não era de frio. Era memória. Era corpo lembrando onde se sentia seguro. Fechei os olhos por um segundo. As mãos abriram como asas. E eu deslizei.

Naquela pista vazia, eu não era a mulher que amava um homem que sempre partia. Não era a mulher que esperava por respostas. Eu era só Clara. Livre. Em movimento.

A cada curva, cada giro, cada deslize… eu recuperava pedaços de mim. E no fim da sessão, com os cabelos colados ao rosto e a re