Após perder os pais em um trágico naufrágio, Clara encontrou abrigo na casa de sua madrinha, Helena, onde foi forçada a dividir o teto com Jason, o filho rebelde e provocador de Helena. Embora tenham crescido juntos, o que os unia não eram laços fraternais, mas constantes provocações e brigas, escondendo sentimentos que ambos se recusavam a admitir.Aos 20 anos, Jason se alistou na Marinha como fuzileiro naval, deixando Clara para trás, dividida entre sua paixão pelo rinque de patinação e o trabalho na floricultura da madrinha. Agora, cinco anos depois, no dia do aniversário de 23 anos de Clara, Jason retorna inesperadamente – e o reencontro é incendiário. A garota que ele costumava provocar cresceu e se transformou em uma mulher forte, independente e... distante. Jason teme que o rancor do passado tenha erguido uma barreira intransponível entre eles – ou pior, que Clara já tenha se entregado a outro.Por trás da arrogância de Jason, sempre existiu um desejo inconfessável: Clara era seu pensamento mais proibido, seu desejo mais sombrio e sua obsessão secreta. Mesmo a quilômetros de distância, ela foi a âncora que o manteve firme e o combustível para suas fantasias. Agora que está de volta, ele precisa lutar contra a tentação de se aproximar mais do que deveria.Para Clara, Jason sempre foi mais que um protetor: ele foi seu primeiro e único amor. Mesmo sabendo que é errado desejar o filho de sua madrinha, seu coração não obedece. Ela está cansada de esconder seus sentimentos – tudo o que mais anseia é que Jason finalmente a veja, não como a garota do passado, mas como a mulher que o amou em silêncio durante todos esses anos.
Leer másJason
O aroma familiar de lavanda e terra molhada da floricultura encheu meus pulmões assim que abri a porta. Fazia cinco anos que eu não pisava aqui. A casa estava quase idêntica ao que eu lembrava – acolhedora, cheia de flores por todos os lados. Mas o ar, aquele que me envolvia agora, era mais denso. Parecia que estava voltando no tempo, parece até... com o dia que Clara chegou para morar conosco. Minha mãe estava ao telefone no balcão da loja, sem perceber minha presença. Seus cachos loiros balançavam conforme ela gesticulava, provavelmente organizando mais uma das suas festas sociais. Minhas amigas de infância estavam ali, rindo, distraídas com alguma conversa animada. Ninguém sabia que eu voltaria hoje. Afinal, elas sempre vem visitar minha mãe, mas o que me intriga é: por quê? "Surpresa", pensei, deixando um sorriso discreto se formar nos lábios. Embora não fosse sincero. Antes que eu pudesse me anunciar, ouvi passos leves vindo do corredor. Quando me virei, meu olhar encontrou Clara. Por um instante, o tempo pareceu parar ao ver aquela que revirou minha vida sem mesmo saber disso. Ela não era mais a adolescente que eu deixei para trás. Seu corpo estava mais esguio, os cabelos caíam em ondas naturais sobre os ombros, e havia uma serenidade fria em seu olhar que eu não reconhecia. O que mais me surpreendeu foi como seu olhar encontrou o meu – sem desviar, sem medo. Sem dúvidas, não é a mesma garota que eu deixei para trás. Ela parou na minha frente, surpresa, mas não exatamente feliz. Seu semblante era de desprezo, como se estivesse vendo um fantasma do seu passado. — Jason? – Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas eu pude ouvir a incredulidade e a hesitação. — Que surpresa! Cinco anos. Cinco anos longe dela e, agora que a tinha de volta, meu peito apertava com algo que eu não queria admitir. Porque Clara era... perigosa. Não só porque ela era bonita, mas porque havia algo nos olhos dela – algo que dizia que as coisas nunca seriam simples entre nós. Clara Eu estava ajudando minha madrinha a arrumar alguns vasos quando o vi. Como um fantasma do passado, Jason estava parado ali, na entrada, com aquele meio sorriso convencido nos lábios. O ar pareceu evaporar dos meus pulmões. A raiva, a confusão e uma pontada de ansiedade se misturaram no meu peito. Ele estava de volta. Justo hoje, no meu aniversário. Jason. Os cinco anos que passaram pareciam não ter feito nada para apagar a arrogância dele. O cabelo um pouco mais curto, mas os mesmos olhos cinzentos que me atravessavam, como se ele conseguisse enxergar tudo que eu tentava esconder. Por um momento, senti como se tivesse voltado a ser a garota boba e ingênua que ele adorava irritar. Mas eu não era mais aquela Clara. Não a que se deixava ser humilhada por ele, como se ele fosse dono da minha vida. — Você voltou? – Minha voz saiu seca, cortante, antes que eu pudesse controlar. Ele não pareceu se importar. Ao contrário, o sorriso em seus lábios se alargou. — Surpresa, princesa. Aquele apelido. Ele sabia o quanto eu odiava. Mas não permiti que ele visse qualquer reação minha. Minha madrinha, Helena, largou o telefone e correu para abraçá-lo, gritando de alegria, e as amigas dele se levantaram em um frenesi de risadas e abraços. Enquanto todos o cercavam, eu permaneci imóvel, tentando processar tudo. Suas amigas me dão nojo, cada uma pior que a outra, como se carregassem um rei em seus ventres. Eu deveria ter me preparado para este momento, mas não estava pronta. Não para lidar com Jason e muito menos com a avalanche de sentimentos que sua volta trouxe. Me recusava a acreditar, mas a mistura de sentimentos deixava claro que não era mais uma de minhas ilusões. Enquanto ele se movia pela sala, trocando sorrisos e cumprimentos, seus olhos voltaram para mim, demorando um pouco mais do que o necessário. E foi nesse instante que eu soube: tudo estava prestes a mudar. Depois dos abraços e risos na sala, fiz o que sempre fazia quando Jason estava por perto: fugi. Subi as escadas com passos firmes e me tranquei no quarto. Precisava respirar e, mais do que tudo, me recompor. Ele não mudou nada. Continuava com aquele jeito prepotente e o olhar penetrante que fazia meu coração bater fora de ritmo. Eu estava em frente ao espelho, tirando o vestido simples que usava, quando ouvi a porta ranger. — Clara. – Sua voz me atingiu como um soco. Minha cabeça virou imediatamente, e ali estava ele, encostado na porta como se nada fosse estranho ou inconveniente. — O que você está fazendo aqui? – segurei o vestido contra o corpo, sentindo o rosto arder. — Estou nua, será que pode se retirar e respeitar meu espaço? Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, deixou o olhar correr pelo quarto, como se estivesse tomando nota de tudo. Quando finalmente seus olhos cinzentos se fixaram em mim, havia um brilho provocador que eu conhecia bem. — É assim que você recebe um velho amigo? – Ele sorriu, aquele sorriso torto e irritante que me tirava do sério. — E não tem nada aí que eu já não tenha visto antes. — Quem te deu permissão para entrar no meu quarto? – Falando dessa forma, parece que a garota medrosa nunca me deixou de verdade. — Ué, eu morava aqui, lembra? — Cinco anos atrás. Agora é meu espaço, Jason. Além disso, você tem o seu quarto. Ele deu um passo à frente, como se quisesse me desafiar, e fechei a porta do guarda-roupa com mais força do que o necessário. Era como se ele estivesse se divertindo com a minha irritação. — Sabe o que eu achei curioso? – Ele cruzou os braços, como se estivesse à vontade demais para o meu gosto. — Ninguém mencionou que hoje é seu aniversário. Ou será que... ninguém lembra? Meu estômago revirou, mas me obriguei a manter a expressão firme. Então ele sabia, afinal. E escolheu ignorar, como sempre fizeram. — Você veio aqui só para me irritar? Porque, se for, parabéns. Conseguiu. E não me importo se não lembrarem. Afinal, é um dia igual aos outros. Jason riu, e o som baixo e rouco deslizou pela minha pele como uma brisa gelada. — Você não mudou nada. Continua a mesma garota sensível. — E você continua o mesmo idiota. Os anos na Marinha não te disciplinou? Por um momento, o ar entre nós pareceu eletrificado, carregado de palavras não ditas e sentimentos enterrados. Ele deu mais um passo, e agora estava perto demais. Perto o suficiente para que eu sentisse o calor do seu corpo, para que meu coração acelerasse contra a minha vontade. — Você sempre foi boa com palavras afiadas, Clara – ele murmurou, a voz rouca e baixa. — Mas não esqueça: que dita as regras desse jogo sou eu. Engoli em seco, tentando ignorar o fato de que meu corpo inteiro estava tenso sob o olhar dele. O Jason de cinco anos atrás era insuportável, mas este... este era diferente. Mais perigoso. Mais importuno e mais descarado. — Saia do meu quarto. Agora. – Disse brava, como se aquilo fosse adiantar de alguma coisa. Por um segundo, achei que ele fosse se inclinar ainda mais perto. Havia algo nos olhos dele, algo que eu não conseguia decifrar. Mas então ele sorriu novamente – aquele maldito sorriso confiante – e deu um passo para trás. — Como quiser, princesa. Até outra hora, boa veremos bastante a partir de hoje. E com isso, ele saiu, deixando a porta entreaberta e meu coração batendo descompassado. Jason Descer as escadas depois de sair do quarto de Clara foi mais difícil do que eu imaginava. Cada vez que nossos olhares se encontravam, algo dentro de mim se agitava, como uma tempestade prestes a explodir. Ela estava diferente. Crescida, segura de si, mas ainda com a mesma língua afiada. A Clara que eu conhecia jamais teria me encarado daquele jeito. Agora, ela era uma mistura perigosa de força e vulnerabilidade, e eu sabia que deveria manter distância. Sei que a machuque mais do que eu deveria. Ela deveria estar namorando... isso acabaria comigo. Mas não conseguia. Quando passei pela cozinha, ouvi minha mãe e as amigas ainda falando sobre mim, como se eu fosse uma celebridade que acabou de chegar na cidade. Fingi que não escutei nada e peguei uma cerveja da geladeira. Minhas amigas... Mulheres insuportáveis, que cresceram, mas ainda continuam as mesmas garotas mimadas de sempre. — Jason, querido, vamos fazer um jantar para comemorar sua volta! – minha mãe chamou da sala. — Achei que fosse chegar amanhã. — Claro, mãe. Faz o que quiser. Mas não precisa se preocupar comigo. Não sou nenhuma celebridade. A verdade era que eu estava pouco me importando com jantares e festas. Só uma coisa me interessava agora. Clara. E a expressão dela quando eu entrei em seu quarto. Confusa, zangada, mas com algo a mais. Algo que me fez querer testar limites que eu sabia que não deveria. Limites que eu quase ultrapassei no passado e que foram meus motivos para ir embora. Servir a Marinha. Clara Depois que ele saiu do meu quarto, precisei me sentar por alguns minutos para recuperar o fôlego. Meu corpo ainda estava quente, como se a presença dele tivesse deixado uma marca invisível em mim. Como se ele fosse feito de chamas inviáveis que queimam meu corpo sem aviso, mas sempre que chega perto. — Idiota. – Murmurei para mim mesma, apertando os punhos. Jason sempre soube exatamente como me desestabilizar. Mas agora era diferente. Ele não era mais o garoto irritante que eu odiava – era um homem perigoso e irresistível, e meu coração estúpido ainda não tinha aprendido a esquecê-lo. Afinal, como se faz para esquecer o primeiro amor não correspondido? Olhei pela janela e vi que o sol começava a se pôr. Precisava sair de casa, espairecer. Talvez patinar um pouco no rinque antes que ele me enlouquecesse de vez. Mas, enquanto eu calçava os tênis, a verdade me atingiu: por mais que tentasse fugir, agora que ele estava de volta, não havia como escapar do que eu sempre senti. E pior... Jason sabia disso. No rinque, o gelo me trazia de volta a realidade, fazendo-me enxergar o perigo que me rodeia.ClaraAcordei com uma sensação estranha. Daquelas que não dá pra explicar, só sentir. Como se algo estivesse prestes a escorregar por entre os dedos — de novo.Depois da noite anterior, a esperança tinha ganhado espaço dentro de mim. Ainda era frágil, como uma flor nascendo depois de um inverno longo, mas estava lá. Fazendo o que faço de melhor. Passei o dia distraída, com o pensamento voltado pro toque da mão do Jason, pro jeito que ele me olhou, como se estivesse me enxergando pela primeira vez de novo. Mas, ainda sinto que às coisas estão tomando outro rumo... e isso me apavora.Mais tarde quando ele veio atéminha casa, fui buscar um livro que tinha esquecido no carro dele. Ele me deu a chave com aquele sorriso torto de sempre e ficou no portão, falando com alguém ao telefone. Não sair rapidamente, fiquei ouvindo a conversa por trás da porta, enquanto ele entrava e se acomodava. E pela primeira vez, eu nunca me senti tão idiota por confiar em alguém. — Claro, eu só preciso confi
ClaraAcordei com a luz da manhã filtrando pelas cortinas. Por um momento, esqueci onde estava, esqueci com quem estava. O corpo ao meu lado, quente e tão familiar, me fez lembrar de tudo que aconteceu na noite anterior. Jason dormia profundamente, de costas, uma expressão serena que contrastava com todo o turbilhão que ele tinha causado dentro de mim. Vê-lo assim, tão vulnerável, partia algo dentro do meu peito — como se parte de mim ainda quisesse protegê-lo, mesmo quando a outra parte gritava para fugir. Sabe por quê? Porque Jason grita PERIGO. Ele já ferrou demais com a sua vida. CHEGA! Levantei devagar, pegando uma camiseta qualquer do chão e indo até a cozinha. Precisava de café. Precisava de silêncio. Precisava de distância. Precisa de tudo e nada naquele mesmo momento.Mas a distância agora era impossível.O cheiro dele ainda estava em mim. Na cama. No ar. Em todos os lugares que eu fosse, não importava, ele sempre invadia meus pensamentos. Enquanto a cafeteira trabalhava,
Algum tempo depois... Clara O novo apartamento era um reflexo do que eu queria para minha vida agora: mais espaço, mais luz, mais liberdade. Eu me sentia ótima. Os dias passaram em um borrão de papeladas, assinaturas e decisões. Resolver as questões da herança foi um processo exaustivo, mas finalmente estava tudo certo. O dinheiro que eu recebi me permitiu sair do pequeno apartamento antigo e encontrar um lugar que realmente me fizesse sentir em casa. Um lugar maior e meu. Alex sempre vinha me visitar, ajudava com a mudança e me distraía das coisas que eu tentava evitar pensar: Jason, Amélia, o casamento que estava cada vez mais próximo. E embora eu não quisesse admitir, isso estava acabando comigo. Não vi Jason nos últimos meses, fazem dois meses que não os vejo. Caio tinha ido embora. Sem avisos, sem despedidas e assim foi bem melhor. Não gosto de pessoas que fazem drama por pouca coisa, e ele era uma dessas pessoas. Nunca daríamos certo. Eu sabia que era o certo para ele.
ClaraJason avançou como um raio. Eu nem tive tempo de reagir antes que ele segurasse a gola da camisa de Caio e o puxasse para cima, mas Caio não se rendeu ao momento. O restaurante inteiro congelou, assim como eu. — Jason! — Minha voz saiu alta, mas ele não me ouviu. — Quer parar com isso?— Quer repetir isso na minha cara? — Jason rosnou, os olhos faiscando de raiva. — Eu não ouvir direito! Caio não se intimidou. Ele ergueu as mãos em um gesto relaxado, um sorriso provocador brincando nos lábios, e o desafio ali estava ficando intenso. — Relaxa, cara. Tá agindo como se tivesse algum direito aqui. Se eu fosse você, daria atenção a sua noiva. Jason empurrou Caio contra a mesa, derrubando copos e talheres no chão, mas Caio permaneceu de pé. Arrumou sua roupa e me olhou. O coração martelava no meu peito. A vergonha é o ódio me consumiam. — Chega! — Exigi, segurando o braço de Jason. — Você enlouqueceu ou o quê?Os olhos dele vieram para mim, escuros, intensos e cheios de ódio ac
Clara A campainha da floricultura soou quando a porta se abriu, mas eu estava concentrada demais equilibrando um vaso pesado na prateleira para olhar quem era, talvez fosse um dos clientes de sempre. — Bom dia! — disse automaticamente, ajeitando as folhas que estavam tortas. — Bom dia, Clara. Meu corpo travou no mesmo instante. Aquela voz... eu nunca esqueceria aquela voz. Devagar, girei nos calcanhares, e meu coração quase parou ao ver quem estava ali. Caio. Ele estava mais alto, mais maduro, mas o sorriso torto ainda era o mesmo. O cabelo mais curto do que eu lembrava, os olhos castanhos brilhando como antes. Por um momento, tudo ao meu redor desapareceu. Eu tinha quatorze anos de novo, olhando para o meu melhor amigo e lutando contra a paixão boba que sentia por ele. — Caio? — minha voz saiu quase num sussurro. O espanto me tomou aquele momento e eu estava feliz em vê-lo novamente. Ele sorriu, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans. — Achei que você fosse demorar m
ClaraAcordei sobressaltada com o toque insistente do celular ao meu lado. Meus olhos estavam pesados, e minha mente demorou alguns segundos para entender onde estava. O quarto ainda tinha o cheiro aconchegante dos lençóis limpos de Helena, e eu adoro esse cheiro. Me faz lembrar meus melhores momentos.Peguei o celular com os olhos semicerrados e vi o nome de Amélia brilhando na tela. Meu coração acelerou. Por que ela me ligaria tão cedo? Enfim... eu não posso perder essa oportunidade incrível de ouví-la. — Alô? — Atendi com a voz sonolenta, sentindo um arrepio percorrer meu corpo. Eu precisei respirar fundo para não perder o controle da coisa. — Clara? — A voz dela soou surpresa, quase como se não esperasse que eu atendesse. — Eu... bom dia. Espero que não esteja incomodando.— O que você quer, Amélia? — suspirei, tentando controlar a irritação que começava a subir. — E você sempre está me incomodando. — Eu queria falar sobre Jason. Sobre o que aconteceu ontem. Eu não sou nenhuma
Último capítulo