O chalé estava quieto, a lareira crepitando num ritmo preguiçoso. Madeleine havia tirado o casaco e as botas, mas não tinha pressa para fazer qualquer outra coisa. O passeio com Clara ainda ecoava nela, como se as cores e vozes das ruas ficassem presas na pele.
Sentou-se à mesa, há semanas vinha tentando criar o hábito de trabalhar e organizar as coisas ali, longe da tentação de apenas se encolher sobre o tapete. Pegou a caixa que guardava na estante e colocou-a sobre a madeira. Dentro, um caos: cartas soltas, blocos de desenho com as primeiras linhas de projetos esquecidos, envelopes amarelados pelo tempo.
Começou pelo topo. Um envelope com o logotipo de um cliente de Londres. Ao abri-lo, encontrou um rascunho de proposta para um prédio de escritórios que nunca saiu do papel. As anotações laterais eram quase todas dele — o cliente. Setas, riscos, mudanças que não eram dela. Madeleine percebeu, com um incômodo que não sentia na época, como havia moldado suas ideias para agradar, para