A neve recomeçou a cair logo depois do almoço, cobrindo a paisagem com uma camada lenta, espessa, quase silenciosa demais. Era domingo, e Madeleine não tinha nenhum compromisso além de existir naquele chalé que, aos poucos, começava a se parecer mais com um abrigo do que com um exílio.
Ela acendeu a lareira cedo, preparou uma caneca de chá de hibisco e empilhou algumas folhas brancas sobre a mesa. Pensava em desenhar algo sem compromisso. Apenas deixar a mão correr.
Antes que escolhesse o primeiro traço, escutou batidas leves na porta.
Emil.
Estava com os cabelos úmidos e os olhos atentos, como se tivesse atravessado uma pequena tempestade só pra chegar até ali. Carregava debaixo do braço um tubo com folhas de papel e um estojo de lápis coloridos.
— Meu pai disse que posso ficar aqui até a neve melhorar. Ele vai até a marina e depois passa buscar — explicou, com a voz tranquila de quem já estava acostumado a lidar com a natureza como uma variável incontornável.
— Claro — disse Madelei