Estela
Faz alguns meses que cheguei em Nova York, e ainda parece que estou tentando me adaptar a mim mesma.
A cidade pulsa, vibra, engole e ao mesmo tempo expande tudo. As aulas têm sido intensas provas, leituras, noites em claro. Jordan e Mei continuam sendo minha válvula de escape. A gente sai, se diverte, vive tudo com intensidade.
Ainda assim, às vezes, no meio da madrugada, quando tudo silencia… eu penso na minha mãe. No meu pai. No cheiro do café da fazenda. E nele. Por mais que eu tente, por mais que eu tenha prometido pra mim mesma, o nome do Guilherme ainda ecoa dentro de mim.
Soube do sequestro da Maria Júlia por uma ligação da minha mãe. Ela estava aflita, mas tentou me tranquilizar dizendo que agora estava tudo bem. Chorei. Sozinha no quarto. Quis voltar. Mas era semana de prova, e meus pais pediram que eu ficasse. “Confie na gente. Está tudo sob controle.” E eu fiquei.
Hoje, voltando da biblioteca, decidi checar a caixa de correio do prédio. Hábito besta. Nunca tem nada.