CAPÍTULO 02

Nunca havia tido uma crise daquela, nem mesmo durante as cirurgias mais complicadas da minha vida, quando precisei literalmente ter o coração do paciente em minhas mãos. Mas naquele momento, diante da possibilidade de perder meu irmão, entrei em pânico.

— Você está se sentindo melhor, Amanda? — perguntou Julian, visivelmente preocupado. Eu apenas assenti com a cabeça. — Tem certeza? Seu irmão não precisa vê-la tendo essa crise na frente dele.

— Estou melhor, Julian! O que meu irmão tem, Dr. Samuel? — perguntei, encarando o médico que nos acompanhava até aquela sala.

— Preciso confirmar com o mielograma, doutora, mas o exame que tenho até o momento indica que provavelmente é leucemia. Pelas taxas que apareceram nos exames, o caso é bastante grave. Estou indo verificar seu irmão… gostaria de me acompanhar?

— Claro, Dr. Samuel! — respondi, respirando fundo mais uma vez. Levantei-me, um pouco mais recuperada, e segui o médico. Quando chegamos ao quarto, meu irmão já havia recuperado a consciência.

— Precisei passar mal para conseguirmos arrumar tempo para nos ver — brincou ele, mas eu não consegui sorrir em resposta. Então, ele me encarou. — É tão grave assim?

— Sr. Felipe, sou o Dr. Samuel, responsável pelo seu caso. Sinto muito, mas a situação é realmente muito grave. Seus exames indicam que você provavelmente está com leucemia. Se não iniciarmos o tratamento em breve, suas chances de sobrevivência serão bastante reduzidas.

— Imaginei que tivesse sido apenas uma queda de pressão. Não fazia ideia de que fosse algo tão grave. Qual é o procedimento agora, doutor? — perguntou ele, olhando para o médico.

— Vamos realizar um exame específico na sua medula óssea e, assim que recebermos o resultado, o senhor precisará ser internado para iniciar o tratamento o mais rápido possível. Antes disso, será necessário estabilizar suas taxas para evitar que seu organismo entre em colapso — explicou ele.

Felipe apenas assentiu com a cabeça, e o médico se despediu. Acompanhei o Dr. Samuel, e Julian me seguiu. Eu precisava conversar com ele a sós.

— Doutor, quais são as chances do meu irmão?

— Para ser sincero com a doutora, a situação do seu irmão é bastante crítica. O sistema imunológico dele está muito enfraquecido, e precisamos estabilizar suas taxas, como mencionei, para que ele possa começar o tratamento. Quanto mais demorarmos, mais difícil será a recuperação. É crucial que, neste momento, ele não contraia nenhuma infecção. Porém, como médica, a senhora sabe que isso não é uma ciência exata, cada organismo reage de forma diferente.

— Eu sei, sim, doutor. Muito obrigada! — agradeci, e o médico seguiu para solicitar o que era necessário.

Olhei para Julian, e ele logo percebeu o desespero no meu olhar. Sem hesitar, envolveu-me em um abraço reconfortante, que durou pouco, pois seu pager começou a tocar, indicando que ele estava sendo chamado para o seu setor.

— Te encontro mais tarde ou amanhã em casa. Tente descansar e, se precisar de qualquer coisa, me ligue — disse ele, despedindo-se.

Nesse instante, Lara chegou com meus pais, e juntos entramos no quarto de Felipe.

— Como você está, meu amor? Fiquei tão assustada! — Lara falou, preocupada com o marido.

— Estou melhor, querida. Um pouco cansado, mas vou melhorar.

— E então, filha, qual é o diagnóstico do Felipe? — minha mãe perguntou. Felipe me olhou, esperando que, como médica, eu explicasse a situação para todos.

— Felipe está com leucemia em um estágio avançado. Não é uma doença fácil de tratar. Ele precisará passar por um exame específico para determinar o tipo exato e terá que ficar no hospital durante o tratamento — expliquei.

Nesse momento, Lara começou a chorar novamente.  Felipe e Lara estavam juntos há cerca de oito anos. Sempre foram muito apaixonados, por isso sei que não está sendo fácil para ela enfrentar essa situação. Mas ela precisará ser forte para apoiá-lo — Felipe vai precisar desse apoio ao seu lado.

— Existe risco de morte? — perguntou meu pai, com a voz tímida.

— Papai, só o fato de estarmos vivos já traz algum risco. No caso do Felipe, a situação se agravou por causa da descoberta tardia. Se esse cabeça dura tivesse me ouvido e feito um check-up antes, talvez não estivesse nessa situação. Como o próprio médico disse, agora é crucial que o organismo dele se recupere um pouco antes de começar o tratamento.

— Por que o tratamento não pode começar imediatamente? Não seria melhor iniciar o quanto antes? — perguntou minha mãe.

— Isso depende do caso, mamãe. No Felipe, o organismo pode não aguentar e entrar em colapso.

— Você não será a médica dele? — perguntou minha cunhada, entre lágrimas.

— Não, Lara. Por questões éticas, não posso ser a médica dele, além de que a minha especialidade é cardiologia. Mas o Dr. Samuel, que está cuidando dele, é um excelente profissional.

— Vou entrar em contato com a clínica de fertilidade para suspender todo o procedimento — disse Lara ao meu irmão, e todos nós o encaramos.

— Acredito que seja o melhor, meu amor! — notei algumas lágrimas se formando em seus olhos.

— Clínica de fertilidade? — minha mãe perguntou, e até eu fiquei curiosa.

— Tínhamos planos de ter um bebê — essa revelação surpreendeu a todos.

Ficamos conversando mais um pouco, mas percebi que Lara continuava chorando silenciosamente. Meu irmão me lançou um olhar, e eu soube que ele estava pedindo ajuda.

Como o médico havia recomendado que ele precisava de descanso, decidi seguir suas orientações e dispensar todos, inclusive Lara, que parecia mais abalada do que meu irmão. Depois que todos saíram, Felipe olhou para mim, visivelmente aliviado.

— Obrigado, Amanda. Amo demais todos eles, mas estava me sentindo um pouco sufocado — disse ele, chamando-me para sentar na cama, perto dele. — Será que esse tratamento vai demorar muito? — perguntou, pensativo.

— Cada organismo reage de um jeito, irmão. É muito difícil para um médico afirma com certeza. Vai depender de como você reagir e do tipo de leucemia que você tem. Por que você não me ligou para fazer o check-up? Poderíamos ter feito um exame de sangue.

— Eu não queria te incomodar com bobagem, irmã. Sei o quanto seu dia é corrido no hospital, não queria te atrapalhar. 

— Você nunca teria me incomodado, Lipe. Teríamos só aumentado suas chances de um diagnóstico precoce e uma recuperação mais rápida, irmão. Estou me sentindo uma inútil. Como não percebi seu estado nas nossas chamadas de vídeo? Se tivesse arranjado mais tempo para te visitar, talvez você não tivesse chegado a esse ponto. 

— Amanda, você não tem culpa da situação que me encontro agora. Você é médica, não vidente. O culpado sou eu, por não ter ido ao médico. Mas agora não adianta chorar o leite derramado. Temos que ergue a cabeça e usar as armas que temos para sair dessa. 

— Eu não posso te perder, Felipe! — falei, com lágrimas nos olhos.

— Você não vai me perder, irmã. Mas já te falei que você precisa estar preparada para tudo, porque na nossa vida existem muitos “sins” e muitos “nãos”. Temos que estar prontos até para o que não dá certo. Não controlamos tudo nessa caminhada.

— Você está certo, mas, nesse momento, tudo que eu quero é que você fique bem.

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