AMANDA
Havia acabado de sair de um plantão extremamente difícil. Realizamos duas cirurgias valvares, três revascularizações do miocárdio e uma toracotomia exploradora, sendo esta última a mais desafiadora de todas.
Infelizmente, não conseguimos um diagnóstico preciso antes que o coração do paciente parasse definitivamente. Perdi a batalha pela vida. Estava exausta, frustrada e com o peso de ter que comunicar a família sobre a perda. Sabia que, ao lidar com vidas, precisava estar preparada para tudo — para a cura e para a perda. Ambas tinham o mesmo peso.
O que às vezes parecia simples, de repente se transformava em algo tão complexo que acabávamos perdendo a batalha.
Não era a primeira vez que enfrentava uma perda, mas cada uma delas era uma experiência profundamente triste para mim. Sabia que era essencial compreender que a medicina não é uma ciência exata e que nem todos os desfechos estão sob o nosso controle.
Existem muitas variáveis que podem influenciar o curso de uma doença ou condição, e nem sempre é possível evitar desfechos trágicos. Ainda assim, a perda sempre deixava um gosto amargo na boca e uma sensação incômoda de que eu não tinha sido boa o suficiente.
Foi então que me lembrei de que, exatamente uma hora antes, a enfermeira havia me avisado que minha mãe estava ligando. No entanto, por causa da cirurgia complicada, só naquele momento consegui respirar fundo e pegar o celular para retornar à ligação.
— Filha, você ainda está no hospital? — perguntou minha mãe. Aquilo foi como uma injeção de adrenalina no meu sistema.
— O que aconteceu, mamãe? — perguntei, atenta ao que ela iria dizer.
— Felipe passou mal, Amanda. A Lara chamou uma ambulância e pediu para que ele fosse transferido para o hospital onde você trabalha.
Naquele momento, a raiva pela perda foi substituída pelo medo.
— Vou verificar isso agora, mamãe! — Notei que também havia uma mensagem da Lara.
(Lara): Felipe passou mal e desmaiou no banheiro de casa! Ainda não sei o que aconteceu, porque, quando a ambulância chegou, os médicos não puderam dar muitas informações — ele ainda estava inconsciente. Estão o levando para o Hospital Mount Sinai. Estou desesperada.
Caminhei apressadamente assim que as portas do elevador se abriram, no térreo, agarrada ao pensamento de que nada grave havia, de fato, acontecido. Estava alheia às pessoas que me acompanhavam no corredor, conversando umas com as outras.
Minha postura não deixava espaço para que alguém se aproximasse — mesmo que fosse apenas para cumprimentar.
Se alguém me perguntasse qual era o meu maior ponto fraco, eu responderia, sem a menor dúvida: Felipe. Meu irmão era tudo para mim, e saber que ele não estava bem era como arrancarem meu coração do peito. Compartilhávamos todos os momentos desde a barriga da nossa mãe — afinal, éramos gêmeos.
Felipe era aquele a quem eu amava profunda e incondicionalmente. Foi meu primeiro amigo, com quem dividi todas as brincadeiras e aventuras, mas também minhas primeiras brigas e discussões.
Sempre foi ele quem tomava minhas dores, me defendia e era meu maior apoiador. Foi com o incentivo dele que me tornei cardiologista. No entanto, antes de chegar à enfermaria da emergência, fui abordada por Julian.
— Calma, Amanda, onde foi o incêndio? — perguntou ele, em tom de brincadeira, segurando-me pelos braços para evitar que eu me desequilibrasse.
— Julian, meu irmão precisou de socorro e descobri que ele foi trazido para cá.
Na mesma hora, o olhar dele ficou alerta. Ele sabia o quanto meu irmão era importante para mim.
— Eu te acompanho até lá. Tenha calma, pode não ter sido nada grave — disse ele, tentando me tranquilizar.
Assim que chegamos à emergência, fomos diretamente até a bancada de enfermagem para verificar as informações com a enfermeira-chefe. O fato de sermos médicos nos concedia algumas vantagens dentro do hospital — especialmente naquele, onde todos já sabiam quem éramos.
Fui informada de que meu irmão deu entrada ainda inconsciente, com temperatura altíssima, inchaço nos gânglios linfáticos e sangramento nasal. Como médica, eu sabia que aquele quadro não era nada bom. Febre acompanhada de sangramento nunca é um bom sinal.
Ela me informou que o médico de plantão era o Dr. Samuel. Pelo que ouvi falar, ele era um profissional com muitos anos de experiência em sua área, que frequentemente trocava o consultório pela adrenalina das emergências. Então, fui em busca dele.
— Perdão, Dr. Samuel, sou a Dra. Amanda Bernardes. Meu irmão deu entrada na emergência e o senhor o atendeu... — disse.
Ele me olhou com uma expressão questionadora, mas, devido ao meu nervosismo, não entendi.
— Desculpe, doutor, o paciente é o Felipe Bernardes — informou Julian.
— Bem, Dra. Amanda, a situação do seu irmão é um pouco crítica. A febre continua muito alta. Solicitei alguns exames, mas não consegui dar um diagnóstico exato porque ele ainda está inconsciente. Agora, tudo depende dos resultados. Deixe-me verificar se já chegaram.
Ele se dirigiu até a bancada de enfermagem, onde estavam os exames. Após analisá-los, olhou para mim com um olhar grave.
— Doutora, o caso do seu irmão é muito mais sério do que eu poderia imaginar.
Tudo parecia um pesadelo, e eu não sabia como lidar com aquilo naquele momento. De repente, comecei a sentir meu coração disparar, uma sensação de sufocamento, calafrios e náuseas.
Naquele momento, eu estava tendo uma crise de ansiedade. Percebendo meu estado, Julian me conduziu rapidamente a uma sala, fez-me sentar, orientou-me sobre o que fazer e pediu que eu tentasse relaxar.
Eu sabia que precisava agir e retomar o controle de mim mesma naquele momento. Meu irmão precisava de mim. Então, aos poucos, comecei a me recuperar, e os sintomas começaram a diminuir.