A noite cai daquele jeito lento, pesado, que parece puxar os pensamentos pra um lugar escuro.
Eu não tinha planejado ler o diário hoje.
Na verdade, eu jurei que ia parar.
Que ia guardar aquela coisa embaixo da cama, fingir que não existia e que eu, definitivamente, não estava me importando demais.
Só que ele estava lá.
Em cima da minha mesa.
Me encarando.
Como se fosse… vivo.
Eu sento, cruzo as pernas, puxo o moletom pra cima do nariz e digo pra mim mesma:
“Cinco minutos. Só cinco.”
Mas eu já sei que estou mentindo.
Abro o diário.
A mão treme.
A luz do abajur bate no papel como se iluminasse algo que eu não deveria ver.
E eu começo a ler.
Trechos do diário
“Às vezes penso que enlouqueci. Que algo em mim quebrou e não tem volta.”
“Prometi não sentir mais nada, mas o corpo não obedece. O coração também não.”
“Eu tento seguir em frente, mas tem dias que ainda sinto o cheiro dela. E isso me destrói.”
Eu fecho o diário por um instante.
Um aperto sobe pela garganta como se fosse uma mão.
El