O som da sirene rasga o silêncio da tarde como um grito de desespero.
Pneus giram furiosos contra o chão de terra batida, levantando uma nuvem espessa de poeira vermelha que engole o quintal.
— Afastem-se! Deem espaço! — berra o socorrista, ajoelhado ao lado do corpo inerte no chão da sala.
O padrinho de Marta está pálido, os olhos semicerrados, a boca entreaberta, suando frio. O peito sobe e desce em descompasso, como se cada respiração custasse o dobro da vida que ainda resta.
— Pressão caindo! Ritmo instável! Vamos, vamos! Temos minutos, não horas!
O corpo é içado com urgência para a maca. O monitor cardíaco apita irregular. A porta da ambulância se fecha com um estrondo.
E então, como uma flecha lançada contra o tempo, o veículo dispara estrada afora.
A poeira sobe. E o silêncio fica.
A família, plantada diante do portão, não se move. Maria cobre a boca com as mãos, em choque. Miguel encara o chão como se procurasse no barro uma explicação. Heitor está paralisado. E Marta...
Marta