Marta aperta o volante da caminhonete com tanta força que os nós dos dedos perdem a cor. O ronco do motor vai diminuindo à medida que ela desacelera, atravessando a velha porteira de madeira que range ao ceder passagem. A estrada de terra vermelha levanta poeira atrás de si, como se o passado, em forma de lembrança, a estivesse perseguindo.
Estaciona sob a sombra densa de uma mangueira antiga, onde, um dia, brincou de pique esconde com Miguel e Darlene. O mesmo cheiro de frutas maduras e folhas secas a invade, tão familiar quanto dolorido. Cada passo que dá agora parece ecoar dentro de si, um reencontro silencioso entre a mulher que partiu e a menina que um dia correu livre por aquelas terras. Ela não volta por causa do padrinho, cujos olhos ela evitava antes mesmo de partir, volta por Darlene. A amiga que nunca saiu do seu coração, apesar da distância, dos anos e dos silêncios impostos por tudo que a vida impôs.
A paisagem é um retrato que envelheceu sem perder a cor: as plantações d