Nada, absolutamente nada, prepara o coração humano para mentir com ternura, mas, às vezes, é justamente esse amor disfarçado de esperança que mantém alguém vivo. Islanne sabia disso mais do que ninguém ao entrar na UTI. O cheiro ácido de álcool e desinfetante queimava-lhe as narinas, enquanto o som ritmado e frio dos monitores parecia zombar da fragilidade da vida.
Ela caminhava devagar, com o avental limpo, as luvas ajustadas, os olhos firmes, embora o peito ardesse num turbilhão de sentimentos. Cada passo até o leito de Marta era uma vitória contra o impulso de chorar, gritar, correr dali.
E então, ali estava Marta. Tão pequena, tão vulnerável entre fios, tubos, sensores… Mas ainda assim com aquele brilho suave, aquela dignidade serena que nem o coma, nem a dor, nem a quase morte conseguiram apagar.
Islanne aproximou-se, devagar, como quem teme quebrar alguma coisa preciosa. Inclinou-se, beijou a testa da cunhada com uma delicadeza que arrancou lágrimas até da enfermeira mais experi