A casa dorme.O silêncio é absoluto, denso, sufocante. Cada parede carrega o eco de risos que não existem mais. Marta recolheu-se. Eduardo partiu. O mundo lá fora continua, mas aqui dentro… o tempo parou.Jonathan está sozinho no corredor. De pé, diante da porta que não ousava tocar. A porta que esconde, atrás de si, o coração partido que ele nunca teve coragem de encarar.O antigo quarto de hóspedes.O quarto dela.A chave gira em sua mão suada. Ele hesita. Respira fundo. O coração aperta como se quisesse impedir o gesto. Mas já passou da hora.Com um clique seco, a fechadura cede.E o mundo dele desmorona.O cômodo permanece intocado, como um relicário silencioso do que poderia ter sido. O perfume da mulher que amou loucamente ainda está lá, doce e morno, misturado ao cheiro da lembrança dela, Aira. Suave como o toque que ele não sente há anos. E cruel como a ausência que nunca deixou de arder.Ele entra devagar, fechando a porta atrás de si com o cuidado de quem não quer acordar fa
Jonathan Eu achei que nunca teria coragem.Durante meses, talvez anos, me escondi desse momento, como se adiar a dor fosse a única forma de continuar respirando.Mas hoje... hoje eu entrei naquele quarto, e alguma coisa dentro de mim desmoronou.E, ao mesmo tempo, algo floresceu.Eu vi você, Aira.Tão viva na memória que doeu abrir os olhos.Senti seu cheiro, ouvi seu riso baixinho enquanto arrumava as coisas para a chegada do nosso bebê.Nosso filho...Eu nem cheguei a tocá-lo.Nunca o embalei nos braços, nunca senti o seu peso contra meu peito.Mas eu o amei.Desde o instante em que vi aquele pontinho na ecografia, eu o amei como só um pai pode amar.E é por isso que doeu tanto perder vocês.Mas não foi minha culpa.Foi um acidente.E eu repeti isso tantas vezes... tentando acreditar.Mas, no fundo, me castiguei todos os dias, como se eu devesse pagar com sofrimento o preço de ainda estar aqui.Só que hoje eu entendi.Eu não preciso me punir para continuar te amando.Eu não preciso
Jonathan e Marta caminham de mãos dadas até o quarto, em silêncio, mas com os corações em paz.A luz do início da manhã invade as janelas, dourando tudo com suavidade.Marta solta a mão dele delicadamente e vai até o banheiro, enchendo a banheira com água morna e essência de baunilha e lavanda. Coloca velas ao redor, cria um ambiente acolhedor, e volta para ele com um sorriso doce.— Vem, amor. É hora de você deixar tudo para trás. Só por hoje... deixa eu cuidar de você.Jonathan apenas concorda com um aceno. Os olhos marejados não precisam dizer nada.Ele tira a camisa e entra na banheira junto com ela, se acomodando entre as suas pernas. Marta passa as mãos pelos ombros dele com carinho, massageando cada ponto de tensão, como se tirasse, pouco a pouco, o peso de todos os anos de dor e saudade.Ele fecha os olhos e encosta a cabeça no peito dela.Pela primeira vez em muito tempo, sente-se leve.Realmente leve.Marta pega o celular e manda uma mensagem para Islanne:"Hoje estamos off.
O caos não avisa quando vai chegar, ele simplesmente explode. E naquela manhã ensolarada, com a rotina fluindo calma pelos corredores do Grupo Schneider, ninguém poderia prever o inferno digital que estava prestes a se instalar. Enquanto Islanne organizava a equipe com firmeza e elegância, na sala de reuniões da diretoria, Ravi cruza os braços ao lado dela, atento às discussões sobre segurança cibernética. O relógio mal marca 10h quando o alarme interno de segurança apita. Um ataque hacker massivo invade o sistema como um vírus letal, e Ravi, já preparado, entra em ação como uma sombra silenciosa no meio da tempestade.— Estão tentando quebrar o firewall de dentro para fora — ele diz, os olhos fixos nas linhas de códigos frenéticas na tela. — Isso é coisa de profissional. De alguém que nos conhece muito bem.Islanne, ao seu lado, não se permite entrar em pânico.— O que você precisa, Ravi?— Derrubar tudo. Agora! — Remarque a reunião, preciso de concentração total, quero apenas voc
O jogo virou. E agora, o tabuleiro é o Grupo Schneider, com todas as peças em movimento, algumas escondidas nas sombras.Marta entra na sala de reuniões como quem atravessa uma linha de fogo. O salto ecoa no piso de madeira, e seus olhos carregam algo feroz, um foco absoluto, quase predatório. Jonathan está à cabeceira da mesa, sério. Ao lado dele, Islanne e Ravi a observam em silêncio, como se pressentissem que algo fora do comum estava prestes a acontecer.Ela caminha com precisão, espalha uma série de documentos sobre a mesa e conecta seu notebook à tela de projeção com um clique seco. Quando a imagem surge no monitor, ninguém respira.— Eu descobri quem está por trás do ataque ao sistema. — Sua voz é firme, cortante como uma lâmina. — E não foi preciso decifrar todos os códigos. Bastou parar de olhar como fizeram… e começar a perguntar por quê.Jonathan estreita os olhos, o maxilar contraído.— Fala, Marta. Quem ousou fazer isso?Ela aponta para a tela. O nome que aparece em letr
A porta do apartamento de Ravi nem chega a se fechar por completo. Ele gira nos calcanhares e segura Islanne pela cintura, puxando-a com uma urgência animalesca. Ela ri, mas o som é rapidamente engolido pelo beijo selvagem que ele deposita em sua boca.— Você demorou uma eternidade, Schneider. — ele murmura entre um beijo e outro, a voz rouca, carregada de desejo contido.— Culpa sua, Ravi. Você não sai da minha cabeça — ela rebate, arrancando a camisa dele com impaciência.As roupas voam pelo apartamento como se tivessem vida própria. A camisa de Ravi cai em cima do sofá, a saia de Islanne vai parar pendurada na maçaneta, os sapatos batem contra a parede. Eles tropeçam até o quarto, beijando-se com uma sede que beira o desespero.— Eu sonhei com esse momento todas as noites essa semana — Ravi confessa, jogando-a sobre a cama com cuidado e desejo. — Você me enlouquece, Islanne.— Então mostra, hacker. Me enlouquece também.E ele mostra.Os corpos se encontram com precisão e descontro
O dia começa como um espetáculo silencioso de poder e elegância. O som dos saltos de Marta ecoa pelo saguão principal do prédio do Grupo Schneider, marcando cada passo com precisão quase militar. Ela veste um blazer azul marinho perfeitamente ajustado, os cabelos soltos como uma moldura para seu rosto firme. Ao lado dela, Islanne e Ravi caminham em sintonia, cada um carregando tablets e relatórios para a reunião de alto nível com os líderes setoriais. Há risos abafados, olhares cúmplices e uma sensação de que algo está por vir.Na sala da presidência, Jonathan já os aguarda, de pé, elegante em seu terno cinza escuro, envolvido em uma conversa com Mônica. Quando os três entram, ele ergue os olhos e seu sorriso se abre automaticamente — mas é para Marta que vai sua expressão mais iluminada.— Até que enfim — diz ele, caminhando até ela e depositando um beijo em sua bochecha. — Bom dia, minha mulher mais linda.Marta cora, mas retribui com um olhar doce e sorri discretamente, mas seus ol
O chão parece tremer sob os pés de Cassandra. Seu corpo perde a força, os joelhos cedem e ela desmorona no mármore frio, os olhos arregalados, a respiração ofegante. A verdade a golpeia com o peso de uma sentença. As vozes ao redor se tornam ecos distantes, e tudo o que resta é a consciência de que perdeu. Definitivamente. Islanne, no entanto, permanece imóvel, o olhar de gelo fixo na mulher caída.— E mais uma coisa — diz ela, sua voz cortante como lâmina. — Se você ousar chegar a menos de cem metros da minha cunhada, eu mesma te faço conhecer o inferno.Sem esperar resposta, Islanne se vira com elegância feroz e encara Marta e Jonathan. — Vamos sair daqui.Jonathan, ainda em alerta, estende a mão para Marta. Ela está pálida, atordoada, mas aceita o gesto. Ele a envolve pelos ombros, firme, protetor, conduzindo-a com o cuidado de quem carrega algo precioso. Islanne segue atrás, sem desviar os olhos de Cassandra até a porta se fechar com um estalo seco, quase simbólico, como uma sent