O silêncio é ensurdecedor. Marta caminha entre os canteiros de hortaliças do sítio como quem pisa em estilhaços, cada passo uma dor calada, cada sorriso um disfarce cuidadosamente construído. Os pés firmes no chão não conseguem conter o peso em seu peito. Ela observa as galinhas ciscando tranquilas, o gado ao longe, na fazenda vizinha, as árvores balançando com o vento suave… e, ainda assim, tudo parece fora do lugar. Porque dentro dela, duas vidas pulsam com força, e ainda assim, ela se sente sozinha. Inteira e absolutamente sozinha.
Durante o dia, veste sua armadura de mulher forte. Supervisiona a ordenha, confere a agenda de entrega dos produtos, acompanha os funcionários nos galpões com um sorriso sereno, mas por dentro, uma pergunta a corrói sem descanso: “É justo esconder isso dele?”
Ninguém desconfia. Nem dona Maria, nem Miguel, nem Darlene, nem mesmo Estela, que anda ocupada em outra propriedade nos últimos dias. Marta segura o mundo nas costas com uma maestria admirável, mas