GuilhermeEla não sabia, mas já era minha desde a primeira noite.Não por palavras, nem por contratos. Por olhar. Por silêncio. Por aquele instante em que ela tentou manter a pose e eu percebi o que tinha por trás dela. Uma mulher que se vende, mas não se entrega. Uma mulher que sorri com o rosto e grita com os olhos.Fernanda.Eu não a escolhi como quem escolhe uma acompanhante. Eu a escolhi como quem reconhece o que é seu. E o mais curioso é que ela achou que tinha opção.Desde o início, o plano era simples: cercar. Cortar os ruídos. Tirar o mundo de perto dela até que só restasse a minha voz.E funcionou.Ela resistiu, claro. Todas resistem no começo. Acham que estão no controle, que podem negociar. Mas o que eu oferecia não era uma transação. Era um tipo de fé. Uma rendição sem glória.Lembro exatamente da noite em que joguei a proposta na mesa. Escritório fechado, whisky caro, ela sentada na poltrona com as pernas cruzadas e um vestido que pedia para ser rasgado. Mas não toquei n
GuilhermeO que Fernanda via era só uma camada. A superfície. O terno alinhado, o sorriso controlado, o escritório de vidro no topo da boate. Um CEO de respeito, respeitado. Mas o que realmente me fazia poderoso não estava no contrato social da empresa. Estava nos corredores escuros atrás do bar, nas conversas murmuradas entre beats pesados e olhares dopados.A boate, a Morro, era só cenário. Luxo, luzes, decadência com perfume francês. O que a elite paulistana chama de “vida noturna”. O que eu chamo de vitrine.Atrás daquela fachada, rodava o meu império. Cocaína pura, sem mistura de padaria. Distribuída com precisão cirúrgi
FernandaEra só mais uma noite.Mais um vestido justo, salto alto, maquiagem afiada o bastante pra esconder a bagunça por dentro. A boate dele — Morro. Eu não devia estar ali. Mas o cliente queria, e eu precisava manter as aparências de que ainda era dona de mim.Eu sabia que ele estaria lá. Guilherme. Sempre estava.Entrei como se nada. Como se o coração não tivesse tropeçado no primeiro passo. O cliente do meu lado era rico, bonito, educado. E completamente irrelevante. Eu fingia ouvir, sorrir, beber. Mas meu olhar escorregava por cima do ombro dele, procurando só um rosto. FernandaSumir por uns dias parecia simples.Desliguei o telefone. Bloqueei mensagens. Inventei uma viagem. Fiquei fora da boate, longe dos olhos dele, longe das mãos dele. Voltei a fazer programas discretos, com clientes antigos, em hotéis anônimos, como nos velhos tempos.Achei que poderia respirar.Mas mesmo no silêncio, sentia ele me rondando. Guilherme era presença mesmo ausente. Era voz que ecoava nos ossos, olhar tatuado nas costas. E quanto mais eu tentava esquecê-lo, mais o corpo lembrava.Na terceira noite, marquei com um cliente habitual. Um executivo sem graça, que pagava caro e falava pouco. Cheguei no hotel com o sorriso falso que eu já sabia usar. Entramos no elevador. Subimos.Mas não chegamos ao quarto.No corredor do 12º andar, antes da porta abrir, duas sombras surgiram. João.Me congelaram com o olhar.— Hora de voltar — disse JP, calmo demais.— Não tem volta nenhuma. Tô trabalhando — rebati.João segurou meu braço. Com força. Como quem segura algo que já é seu pCapítulo Vinte e Quatro
GuilhermeEla tentou fugir.Eu deixei.Três dias. Foi o tempo que me dei pra ver até onde iria. Como uma corda sendo esticada só pra provar que no fim… sempre arrebenta do lado mais fraco.Fernanda achou que era esperta. Que podia desligar o celular, sumir da boate, voltar a vender o corpo como se o meu nome já não estivesse cravado nele.Deixei correr. Mandei JP rastrear. João seguiu de longe. Bastou um cliente, um hotel qualquer, e já sabíamos onde ela estaria.Tirei ela de lá como se fosse lixo reciclado que tentava voltar pras ruas. E quando a joguei na parede da minha cobertura e fodi ela até quebrar, não foi só pelo sexo.Foi marcação. Foi aviso. Foi selar propriedade.Agora ela sabe.E eu também.Ela não pertence a mais ninguém. Nem a ela mesma.***Desde aquela noite, mudei as regras.Fernanda não dorme mais sozinha. Se não está comigo, tem segurança na porta. Se pisa fora da boate, é com minha autorização. E se algum outro homem ousa falar com ela — olho torto, comentário s
GuilhermeO problema de domar uma mulher selvagem é que ela nunca se entrega de uma vez. Sempre guarda um pedaço. Uma fresta de liberdade, um último sopro de resistência.Fernanda era assim.Mesmo com a rotina controlada, com o corpo rendido, com a vida sob a minha sombra, ela ainda tinha aquela faísca nos olhos. Como se quisesse lembrar a si mesma que podia correr. Que podia lutar.Eu sabia que isso não ia durar. Porque quando um animal aprende que a coleira aperta se tentar escapar, ele para de resistir.E eu já estava pronto para apertar.A ideia veio depois de uma noite longa na boate.Eu estava no escritório, assistindo as câmeras. Fernanda atendia as mesas com aquele sorriso que não mostrava os dentes — um meio termo entre indiferença e raiva.Um dos clientes tentou tocar a mão dela. Ela recuou rápido, firme. Ele insistiu. Antes que JP ou João chegassem para intervir, ela já tinha dado um tapa seco na mão do cara.Sorri de canto. Boa garota. Mas não era suficiente.Porque e
FernandaA primeira noite com a tatuagem foi como dormir com um segredo queimando na pele. O toque do travesseiro ardia, o cabelo roçava e me lembrava a cada segundo que, a partir de agora, eu não era só minha.Eu ainda não tinha visto o desenho, mas sentia. Guilherme tinha marcado o próprio nome na minha nuca, como quem sela um contrato sem direito a rescisão.Nos primeiros dias, andei pela boate com o cabelo solto, na tentativa desesperada de esconder a marca. Mas não adiantava. Os olhares me perseguiam. As conversas paravam quando eu passava. As outras meninas murmuravam entre si, trocando olhares de pena e inveja.— Você viu a Fernanda? — ouvi uma delas sussurrar. — Parece que agora é só do Guilherme.Não me virei, não discuti. Só continuei andando, os saltos ecoando pelo chão da boate, cada passo uma tentativa de provar a mim mesma que eu ainda era livre.Mas a verdade queimava na minha pele. Eu já não era.E então veio a Miriam.Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela viria
Guilherme Eu estava chegando em casa após uma noite intensa com uma morena incrível. Os momentos que passamos juntos ainda ecoavam em minha mente, mas eu precisava voltar à realidade. Assim que saí do carro, percebi dois jovens parados na portaria, claramente esperando por mim. Eu os reconheci de imediato - eram membros da minha equipe.Com um aceno casual, cumprimentei os rapazes e dei sinal para o porteiro liberar a entrada deles. Não havia necessidade de formalidades. Eles eram parte do meu círculo mais próximo, e eu confiava neles como confiava em mim mesmo.Subimos juntos no elevador, e durante o curto trajeto até meu apartamento, observei os olhares determinados nos rostos dos jovens. Eles tinham uma energia palpável, uma mistura de entusiasmo e respeito que eu sempre valorizava em meus homens. Era evidente que estavam prontos para o que quer que estivesse por vir.Ao chegarmos ao meu andar, a porta se abriu e entramos no apartamento. O ambiente luxuoso contrastava com a atmosf