Fernanda
Acordei com o corpo gelado, cada músculo retorcido de exaustão e medo. Abri os olhos para um teto baixo, iluminado por uma lâmpada fria e tupida. As paredes, de concreto cru, estavam cobertas de rachaduras e mofo. Era uma cela sem janelas, onde o som distante de correntes se misturava ao eco dos meus próprios batimentos.
Levantei‐me com dificuldade, sentindo cada osso responder à humilhação de me ver presa novamente. Minhas roupas haviam sido trocadas por um uniforme branco, fino demais para me aquecer. No canto, uma pia entupida, sem torneira – um engano planejado para me descrer da própria humanidade.
Voz por alto‐falantes:
“Lembre‐se, Fernanda, você é um produto de luxo. Seduza, entregue o sonho e desapareça antes que te destruam.”
O som rasgava o silêncio como navalha. A hipnose havia começado após o sequestrar: sessões em que me faziam ouvir ordens de sedução, vestida em seda, sorrindo para monstros mascarados. Depois, me prendiam a correntes geladas, confirmando que eu