📓 Narrado por Clara — Terça-feira de manhã
A porta bateu atrás dele e o silêncio tomou conta do apartamento.
Eu fiquei ali, no meio do quarto, abraçada em mim mesma, sentindo o cheiro dele ainda grudado nos lençóis, no travesseiro, na minha pele.
Encostei na cômoda, fechei os olhos e deixei o ar escapar pesado.
— Você é uma boba, Clara… uma boba. — sussurrei pra mim mesma, quase sem voz.
Boba por ter deixado ele entrar.
Boba por ter acreditado, nem que fosse por um instante, que podia ser diferente.
Boba por deixar o coração disparar com cada toque, cada olhar, mesmo sabendo que ele nunca ia me assumir.
Passei a mão no rosto, tentando conter a umidade que ameaçava escorrer dos olhos. Não era choro… era raiva. Raiva de mim mesma, de me deixar ser só mais um segredo, um corpo à noite e um crachá durante o dia.
Olhei pro espelho. O reflexo mostrava meu cabelo ainda úmido, a camisa larga escondendo as marcas que ele tinha deixado na minha pele. Marcas que queimavam como