📓 Narrado por Clara — Segunda-feira
Bati na porta duas vezes, firme, mesmo com a respiração curta.
— Entre. — a voz dele atravessou a madeira, grave, seca, como sempre.
Empurrei a porta e entrei. Miguel estava atrás da mesa, terno cinza-escuro impecável, gravata alinhada, os olhos fixos em um relatório como se eu não tivesse sequer atravessado a sala. Nem levantou o olhar.
Fiquei de pé, a bolsa ainda no ombro, esperando instruções.
Ele folheou duas páginas, assinou algo, largou a caneta no tampo de vidro com força suficiente para o som cortar o silêncio. Só então falou, sem sequer me encarar:
— No fim de semana, viagem de negócios. Você vai comigo.
Engoli seco.
— Pra onde seria, senhor?
Ele ergueu os olhos, finalmente, e a forma como me encarou fez meu estômago gelar. O cinza dos olhos dele não tinha nada de neutro era frio, calculista, como se medir a minha ousadia fosse parte do trabalho dele.
— Desde quando secretária questiona destino? — rebateu, com a voz grave, impaci