📓 Narrado por Clara — Domingo de manhã

Fugi.

Não sei nem como tive coragem, mas fugi.

Amanheceu e eu ainda estava enrolada no lençol dele, ouvindo a respiração pesada de Miguel ao meu lado. O peito dele subia e descia devagar, o corpo grande relaxado pela primeira vez desde que o conheci. Ele parecia vulnerável, humano, quase… doce.

E talvez justamente por isso eu soubesse que precisava ir embora.

Levantei devagar, cada músculo doendo depois da noite bruta e selvagem que tivemos. A ponta dos meus dedos tremia quando puxei o vestido encharcado da chuva, ainda largado no canto, e percebi que não tinha como usá-lo. Estava pesado, frio, fedendo a tempestade misturada com sexo.

Acabei vestindo apenas a camisa dele. Grande demais pra mim, cobrindo até o meio da coxa. Por um instante, me olhei no espelho do chalé cabelo desgrenhado, batom borrado, olhos vermelhos não sei se do choro silencioso ou do gozo repetido. Eu parecia outra.

Arrastei os pés até encontrar minha bolsa, e