**Narrativa de Miguel Satamini**
O café amargo já havia me despertado por completo quando, em um impulso inesperado, decidi visitar meus pais. Não estava nos planos da minha agenda, mas a verdade é que, por mais que eu tentasse desviar o pensamento, a lembrança da minha mãe reclamando durante nossa última ligação ressoava como uma conta não paga em minha consciência.
Peguei as chaves do carro, desci os degraus até a garagem e, poucos minutos depois, estava dirigindo pelas ruas que me levariam à casa onde passei minha infância. Era uma casa robusta, construída em alvenaria clara, com um portão verde-escuro o tipo de residência que não exibe ostentação, mas que impõe respeito simplesmente por sua solidez.
Estacionei em frente ao imóvel. Ao desligar o motor, fui acolhido por um som que há tempos não escutava: passarinhos cantando e vizinhos conversando na calçada. Respirei profundamente antes de tocar a campainha.
Minha mãe abriu a porta rapidamente, como se estivesse me aguardando