**Narrado por Miguel Satamini**

Clara atravessou o hall do local com a mesma cautela de alguém que se move por um campo minado cada passo seguro, mas repleto de consciência sobre o que podia acontecer. Quando ela parou à minha frente, senti a necessidade de ajustar minha respiração. Era uma sensação nova, pois, há muito tempo, não enxergava apenas a secretária que havia sido recentemente contratada. Eu realmente via a mulher à minha frente.

— Boa noite, Clara pronunciei, a voz soando mais grave do que o normal, quase rouca, mesmo para os meus padrões habituais.

Ela não esboçou um sorriso. Limitou-se a um gesto de assentimento discreto, como se já soubesse que eu a observava mais do que seria apropriado.

Abri a porta do carro para ela, estendi a mão e, mais uma vez, senti o calor da pele dela tocando a minha. Foram apenas alguns segundos, mas o suficiente para uma descarga elétrica percorrer meu braço. Ela entrou no carro, ajeitando o vestido preto que realçava sua figura, e cruzou a