📓 Narrado por Clara — dois meses depois
O mar fazia aquele barulho antigo, de coisa que nunca muda.
Ondas quebrando, vento frio, cheiro de sal e de lembrança.
A areia ainda guardava o calor do dia, e eu, sentada nela, deixava que cada grão colasse na pele .
Pele essa que agora era minha de novo.
Sem dor.
Sem medo.
Sem feridas.
Dois meses tinham se passado desde o dia em que desabei no colo da minha mãe.
Dois meses desde que deixei tudo pra trás a empresa, a cidade, e ele.
Miguel Satamini.
O nome ainda tinha peso. Mas já não me afogava.
Hoje ele era só parte da minha história, não mais o centro dela.
Foram dois meses de silêncio, de remédio na hora certa, de consultas marcadas, de reaprender a olhar o espelho sem desviar o rosto.
A médica daqui, a mesma que me diagnosticou anos atrás, me recebeu com aquele sorriso de quem vê um velho fantasma ir embora.
> — Você tá bem, Clara. — ela disse, folheando meus exames com cuidado. — A doença tá controlada. E o