📓 Narrado por Miguel Satamini
Saí da empresa antes do horário.
Não peguei pasta. Só o peso do que disse e o que ficou entalado.
O vento batia no vidro do carro e, pela primeira vez em meses, eu não queria o silêncio.
Mas nem música servia pra anestesiar aquilo.
O nome dela vinha junto com o barulho dos pneus no asfalto: Clara.
A cidade passava como borrão prédios, semáforos, gente com pressa.
E eu ali, preso dentro de mim, tentando entender quando foi que comecei a perder o controle que tanto me orgulhava de ter.
Quando percebi, já estava dobrando a esquina da rua dos meus pais.
Toquei a campainha.
Demorou só alguns segundos até ela abrir a porta.
Teresa Satamini.
Nem precisei dizer nada. O olhar dela fez o resto.
— Enfim, resolveu aparecer. — disse, apoiando uma das mãos na cintura. — Pensei que ia precisar fingir o próprio velório pra você lembrar que tem mãe.
— Boa tarde pra senhora também. — respondi, seco, mas com o canto da boca traindo um meio sorriso.
Ela bufou, mas o olhar