📓 Narrado por Miguel — Sábado, 11h10 da manhã
O barulho da porta batendo ainda tava no ar.
Mas o silêncio que ficou depois… foi o pior som que eu já ouvi.
Fiquei ali, parado, olhando pro nada, com a mão ainda estendida como se o corpo não tivesse entendido que ela tinha ido embora.
A respiração veio curta, o peito travando, e o quarto… parecia pequeno demais pra conter o que eu sentia.
Passei as mãos no rosto.
O cheiro dela ainda tava ali.
No ar, no meu pescoço.
E isso me destruiu mais do que a própria ausência.
> “Apaga a luz, Miguel…”
“Assim tá bom, não acende…”
“No escuro é melhor.”
As lembranças vinham em ondas, batendo, batendo, até me afogar.
E foi aí que eu percebi.
Tarde demais.
— Merda… — murmurei, a voz embargada. — Era por isso.
Era por isso que ela apagava a luz.
Era por isso que se encolhia quando eu encostava.
Era por isso que o escuro era o único lugar onde ela se deixava inteira.
O corpo dela carregava cicatrizes que ela nunca me