📓 Narrado por Clara — Sexta-feira, 16h43 da tarde
O apartamento estava em silêncio, e isso era raro.
Nem o som da rua conseguia atravessar a janela fechada. Só o barulho do zíper da mala e o ar-condicionado soprando um frio que não convencia nem o corpo, nem a alma.
Passei a mão pelo espelho.
O reflexo me devolveu uma mulher diferente menos “secretária”, mais “sobrevivente”.
O blazer ficou pendurado na cadeira.
As camisas brancas, alinhadas no cabide, ficaram pra trás.
Hoje não.
Abri a gaveta debaixo e puxei o conjunto de seda azul-marinho.
A calça tinha corte justo, cintura alta, tecido leve o bastante pra respirar, mas firme o suficiente pra esconder o que eu ainda tentava curar.
A blusa, de alça larga e decote discreto, deixava o ombro à mostra sem revelar demais.
A cor abraçava minha pele clara, e pela primeira vez em muito tempo, eu não quis esconder.
As marcas estavam quase secas, o tom avermelhado cedendo espaço ao rosado novo pele renascendo.
Tocar nelas ainda